A função das vacinas é a imunização, ou seja, a capacidade de proteger a população de doenças imunopreveníveis. Através das vacinas, o corpo humano produz resposta imunológica com a produção de anticorpos. Uma parcela considerável das vacinas necessita mais do que apenas uma dose para que se atinja o pico máximo de resposta imunológica. O período mais crítico relacionado à vacinação é o compreendido nos primeiros meses de vida da criança, quando sua memória imunológica é quase inexistente. A imunização em períodos corretos da infância é fundamental para prevenir doenças infecto-contagiosas, pois nessa época a criança já está em contato com outros indivíduos (crianças brincando na escola, por exemplo).

O calendário de vacinação foi criado com o objetivo de indicar em quais momentos da vida a pessoa deveria ser vacinada e contra que tipo de doença, de forma que as chances de proteção fossem maximizadas. O calendário de vacinação nacional é ilustrado na Figura 1. Em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, o controle de vacinação é realizado de forma descentralizada, pelas próprias pessoas. Em resumo, cada pessoa recebe uma carteira de vacinação ela deve verificar quando a próxima vacina deve ser tomada, conforme ilustrado na Figura 2. Como a maior parte da população não dispõe de ferramentas que alertem sobre os períodos corretos de imunização, as chances de esquecimento das datas indicadas no calendário são altas. Tal problema é diminuído com iniciativas por parte do governo, por exemplo, como campanhas de vacinação, mas outras alternativas relacionadas com o uso da tecnologia também podem ser adotadas.

Vacinas devem ser tomadas em um calendário específico porque evidências comprovam que as doses corretas nos períodos corretos são responsáveis por otimizar a resposta imunológica do organismo. Isto requer várias visitas a centros de saúde durante a infância e mais tarde na vida adulta. Se uma pessoa perde uma dessas visitas ou não segue corretamente o calendário, ela pode não estar completamente protegida contra certas doenças. Felizmente, a vida moderna trouxe com ela as evoluções tecnológicas na comunicação. Abaixo são listados alguns métodos que podem ser utilizados por uma pessoa como auxílio para seguir seu calendário vacinal, com lembretes de quando a próxima vacina recomendada deve ser ministrada.

Existem vários aplicativos de smartphone (iPhone, Android, BlackBerry) com a função de lembrete de eventos. Todos eles possuem calendários que permitem armazenar eventos em um futuro distante, então não seria uma má ideia utilizá-los para registrar lembretes das próximas vacinas, mesmo que elas ocorram em alguns anos no futuro. Obviamente, existem aplicativos específicos que mantém registro da carteira de vacinação da pessoa e indicam a data da próxima vacina, conforme ilustrado na Figura 3. Exemplos desses aplicativos são o "Vaccine Reminder" e "iVaccine" ambos aplicativos Android. Apesar de não se restringir apenas a lembretes de vacinas, o "Babymate" é um aplicativo para iPhone que inclui um serviço de lembrança de vacinas, além de registro daquelas já tomadas. Outros aplicativos estão disponíveis nas respectivas lojas dos smartphones.

Caso a pessoa possua um serviço online de email como o do Google, Yahoo ou Microsoft Outlook, é disponibilizado uma função de calendário juntamente com o serviço. Assim como ocorre com o smartphone, também é possível criar lembretes de eventos futuros. Além disso, o usuário também pode buscar por eventos passados, verificar quais vacinas já foram tomadas e aquelas que ainda faltam. Em sites da web como www.vaxnation.org (Figura 4), o usuário pode ser lembrado por email quando a próxima vacina deve ser tomada apenas preenchendo um simples formulário de cadastro. Em www.immunizeindia.org (Figura 5) a notificação é feita através de SMS, e o cadastro também pode ser realizado através de SMS enviado ao sistema.

Algumas secretarias de saúde mantém registros eletrônicos de imunização (fora do Brasil) como parte de sua missão de proteger a comunidade de doenças infecto-contagiosas. Tais sistemas coletam e integram dados do histórico de vacinação dos indivíduos a partir de todos os postos de vacina usando o sistema, fazendo com que o registro da vacinação e a coordenação aconteça de forma mais eficiente. Na maioria das vezes, tais registros não são acessíveis pela pessoa ou pais, apesar de que existe a possibilidade de se solicitar uma cópia das informações ao sistema.

Os sistemas de lembrete de vacinação existentes dependem de uma localização específica, pois os calendários de vacinação podem variar de acordo com a região e as políticas de saúde de cada país. No Brasil, por exemplo, o Ministério da Saúde desenvolveu um aplicativo móvel que funciona como uma carteira de vacinação virtual. Ele mantém registro das vacinas já tomadas e também indica as próximas vacinas. Além dessa "solução oficial" disponibilizada pelo governo, outra alternativa nacional foi encontrada. O site "Guia do Bebê" (http://guiadobebe.uol.com.br/carteira-de-vacinacao) fornece um serviço gratuito de lembrete de períodos de vacinação por email. Ambos os sistemas são ilustrados na Figura 6. Considerando os dois exemplos nacionais, apenas notificações por email ou alertas no dispositivo móvel são suportadas, sem incluir a opção de lembrete por SMS.

A maioria das alternativas que compreendem sistemas de lembrete de vacinação fora do Brasil não são aplicáveis em países em desenvolvimento, pois uma grande parcela da população não possui smartphones, contas de email, ou até mesmo acesso a computadores conectados à internet. De acordo com o IBGE, 67,9% da população possui celular, 48,9% tem acesso à internet e 91,2% tem algum tipo de telefone em suas casas. Por causa desse fato, as soluções atuais devem ser adaptadas de forma que elas possam atingir uma maior parcela da população. Daí surgiu o VacinaRec.

A solução proposta com esse projeto, chamada de VacinaRec, faz parte da categoria de Calendários Online de vacinação. Percebeu-se que com essa abordagem um maior número de usuários pode ser atingido, devido ao fato do calendário poder ser acessado por qualquer dispositivo com conexão à internet. Isso permite que ambos, tanto o profissional de saúde como a pessoa que toma a vacina, acessem o sistema. Dessa forma, com o treinamento adequado e a devida autorização, o profissional da saúde pode inserir no sistema os dados da pessoa, a qual nem precisa nem precisa manipular diretamente o mesmo. Além disso, a solução proposta faz uso de uma API de comunicação em nuvem baseada em tecnologia VoIP. Através dessa API é possível realizar envio de SMS, além de chamadas de voz automáticas para os usuários, com o intuito de lembrar-lhes da vacina a ser tomada. Com essa integração, o sistema não fica apenas restrito a notificações por email e também pode oferecer uma funcionalidade similar a de um call center, para o qual usuários podem ligar para obter mais informações sobre seu calendário e postos de vacinação próximos que possuam uma vacina específica. Uma vez que o sistema é completamente automatizado, o custo de implementação e execução é relativamente baixo. Para que o projeto seja implantado e esteja totalmenten funcional, dois pontos distintos devem ser considerados. O primeiro deles é o custo relacionado com o treinamento básico dos profissionais nos postos de saúde para que eles saibam como realizar o cadastramento dos pacientes no portal. O outro custo está relacionado com a manutenção do sistema, que inclui um servidor web (como são armazenados poucos dados de cada usuário, não há uma demanda alta por espaço de armazenamento) e o contrato com uma empresa de telecomunicações que forneça o serviço VoIP (permitindo as notificações por SMS e ligações). O VacinaRec foi criado de forma que pessoas de qualquer classe social tenham acesso à informação, mesmo aquelas que não tenham acesso diretamente à tecnologia. Isso só foi possível por causa de alguns elementos de inovação listados a seguir.

Os dois pontos mais importantes referentes a inovações trazidas pelo VacinaRec refere-se ao benefício que a solução traz à população e na forma como os usuários são notificados.

Um sistema de lembrete de vacinação é útil por si só, pois ele informa os períodos corretos nos quais uma pessoa deve ser vacinada. Seguindo corretamente o calendário de vacinação, o risco de aquisição de doenças é diminuído e consequentemente, a taxa de mortalidade da população diminui. O VacinaRec vai além de apenas lembrar o usuário da próxima vacina a ser tomada. Com o sistema, é possível verificar onde (qual o posto de saúde mais próximo) tomar a vacina, já que o usuário fornece no cadastro uma localização aproximada de onde vive. Tal funcionalidade foi possível graças à integração com os dados abertos fornecidos pela Prefeitura da Cidade do Recife (http:// dados.recife.pe.gov.br). Essas informações incluem não só o georreferenciamento dos postos de saúde, como também telefone de contato dos mesmos e uma lista com as vacinas disponíveis em cada local, esta podendo ser atualizada em tempo real através do uso do VacinaRec.

O segundo fator de inovação do VacinaRec diz respeito às notificações usadas. Além de cobrir as notificações convencionais por email e SMS, já suportadas por outros sistemas de lembrete de vacinação, o VacinaRec também faz uso de notificações por meio de ligações telefônicas automáticas. Dessa forma, é possível atingir usuários de classes sociais menosn favorecidas, e difundir as informações das vacinas para uma maior parcela da população.

O projeto proposto envolve pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal Rural de Pernambuco. Os dados abertos utilizados no projeto fazem parte do portal de dados abertos da Prefeitura da Cidade do Recife. Este projeto foi idealizado com foco no Concurso Cidadão Inteligente.REC, promovido pela Prefeitura da Cidade do Recife.