Redes ATM X Gigabit Ethernet
Joseane Barbosa de Farias
Karina Karla Cavalcante de Oliveira
{jbf, kkco}@di.ufpe.br
Departamento de Informática
Centro de Ciências Exatas e da Natureza
Universidade Federal de Pernambuco
Setembro, 1998

 
RESUMO

No ambiente local e corporativo há uma demanda por redes de alta velocidade com a finalidade de se prover a interconexão de servidores a diversas redes locais, ou simplesmente a interconexão das próprias redes de uma forma quase que transparente. Neste contexto destacam-se as tecnologias ATM e Gigabit Ethernet. Este trabalho tem por objetivo fazer um estudo destas tecnologias, levantando suas características e realizando uma comparação entre as mesmas sob diversos aspectos, bem como uma análise da aplicabilidade de cada uma delas no mercado atual.
 

ABSTRACT

In the local and corporate environment there is a demand for high-speed networks with the purpose of providing the interconnection of servers to several local networks, or simply the interconnection of the own networks in a way almost transparent. In this context they stand out the technologies ATM and Gigabit Ethernet. This paper has for objective to do a study of these technologies, lifting its characteristics and accomplishing a comparison among the same ones under several aspects, as well as an analysis of the applicability of each one in the current market.
 


1. Introdução

Modernas organizações utilizam suas redes locais (LANs) para fornecer conectividade entre um grande número de desktops computando novas e sofisticadas aplicações que unem dados, voz, vídeo e imagem. Enquanto o volume do tráfego aumenta, a largura de banda oferecida por Legacy Networks rapidamente se torna inadequada para manter um desempenho aceitável nestes ambientes. Além das aplicações, servidores Web de Intranets, server farms centralizados, groupwares estão também forçando os limites das redes de computadores. Surge, portanto, a demanda por novas tecnologias que atendam as necessidades de desempenho, segurança, confiabilidade e qualidade de serviço impostos por estes novos cenários.

Várias tecnologias estão disponíveis hoje com propostas diferentes para atender estas necessidades. Entre elas, encontramos ATM e Gigabit Ethernet.

Para entender ATM (Asynchronous Transfer Mode) é necessário uma breve explanação sobre STM (Synchronous Transfer Mode). STM é a antiga tecnologia usada pelo backbone das redes de telecomunicações para transferir pacotes de voz e dados através de longas distâncias. STM é uma tecnologia de comutação de circuitos, onde uma conexão é estabelecida antes do início da transferência de dados, sendo liberada só após o término de tal transferência, com desperdício de banda devido a impossibilidade de se transmitir dados de outra conexão quando a conexão corrente não está sendo usada mas ainda está ativa. Visando uma tecnologia mais flexível e eficiente, surgiu ATM, que pode ser definida como comutação rápida de pacotes com pacotes de tamanho fixo e pequeno, permitindo uma alta flexibilidade e poder de manipulação de tráfego a uma taxa constante (áudio e vídeo) e variável (dados).

Gigabit Ethernet constitui um novo padrão que promete entregar dados Ethernet a uma taxa de 1Gbps, ou cem vezes a taxa tradicional do Ethernet que domina as redes locais no mundo inteiro. O Gigabit Ethernet apresenta uma abordagem evolucionária e simples para melhoria das redes locais hoje existentes, oferecendo suporte do tipo "melhor esforço" para diferentes mídias, com perfeita integração com as aplicações e protocolos hoje existentes e herdando várias características e limitações da família Ethernet da qual se originou.
 


2. Redes ATM

A idéia básica de ATM é transmitir toda a informação em pacotes pequenos e de tamanho fixo, chamados células. É uma tecnologia, escondida dos usuários, e potencialmente um serviço, visível aos usuários, algumas vezes chamada de cell relay.

ATM foi projetada prioritariamente para a substituição do sistema telefônico e para transmissão de vídeo de alta qualidade e conteúdo multimídia, o que não impediu sua larga utilização para transmissão primária de dados. ATM alcançou uma maior aceitação e adoção em redes de grandes empresas, companhias telefônicas, campus universitários e provedores de serviços, principalmente como backbone.

2.1. Modelo de Referência ATM

O Modelo de Referência ATM é baseado em padrões desenvolvidos pela ITU, sendo dividido em três camadas, a camada física, a camada ATM e a camada de adaptação ATM (AAL – ATM Adaptation Layer), conforme figura abaixo.

2.1.1. A Camada Física em Redes ATM

Define um método de transporte para células ATM entre duas entidades ATM. Possui uma subcamada dependente do meio de transmissão, responsável pela correta transmissão e recepção de bits no meio físico chamada PMD (Physical medium dependent sublayer) e uma outra subcamada de convergência de transmissão responsável pelo mapeamento de células ATM para o sistema de transmissão usado. É responsável também pela geração e processamento de HEC (Header Error Check) e monitoração de desempenho.

Dois tipos de conexões são oferecidas: circuitos virtuais permanentes e circuitos virtuais comutados. Os circuitos virtuais permanentes são requisitados pelo cliente manualmente e tipicamente permanecem no lugar por meses ou anos; já os circuitos virtuais comutados são configurados dinamicamente como necessário e desfeitos imediatamente após o uso. Numa rede de circuitos virtuais como ATM, quando um circuito é estabelecido, o que realmente ocorre é a escolha de uma rota da fonte ao destino e todos os switches (roteadores) ao longo do caminho fazem entradas nas tabelas, podendo então rotear qualquer pacote naquele circuito virtual, com a possibilidade de reservar recursos para o novo circuito. Num circuito virtual permanente, os switches sempre irão guardar entradas nas tabelas para um determinado destino, mesmo se não houver tráfego por meses, com possível reserva de banda e buffers, havendo uma carga mensal (custo e desperdício de recursos) para tais circuitos; como vantagem não existe o tempo de configuração da rota, possibilitando o movimento instantâneo dos pacotes.

O meio de transmissão para ATM é normalmente fibra ótica, onde cada link vai de um computador para um switch ATM ou de um switch ATM para outro switch ATM. Ou seja, os links são ponto-a-ponto, não possuindo meio compartilhado como muitas LANs, o que é uma vantagem na segurança da rede, uma vez que as estações não podem trabalhar em modo espião, entretanto, não podem efetuar broadcast. O problema do broadcast é solucionado via multicast para todas as estações, com uma célula entrando numa linha do switch e saindo em múltiplas linhas.
 

2.1.2. A Camada de Enlace em Redes ATM

Na transmissão de células o primeiro passo a ser efetuado é o checksum do cabeçalho. A decisão de só se ter checksum no cabeçalho foi tomada para reduzir a probabilidade de células serem entregues incorretamente devido a um erro no cabeçalho, mas sem pagar o preço de checksum num campo muito maior que é o de dados; e porque ATM foi projetada para usar fibra ótica, que é altamente confiável. É função das outras camadas realizar tal checksum caso elas queiram.

No envio de dados o trabalho da subcamada TC (Transmission Convergence Sublayer) é pegar uma seqüência de células, adicionar um HEC a cada uma, converter o resultado para uma stream de bits e colocá-las no meio físico, numa velocidade compatível com a velocidade do meio físico. Para isso, usam um tipo especial de células de controle chamadas OAM (Operation and Maintenance). Na recepção dos dados realizam a tarefa inversa.

 
2.1.3. A Camada de Rede em Redes ATM

Embora não haja reconhecimentos de pacotes (acknowledgments), a camada ATM assegura que células enviadas ao longo de um circuito virtual nunca irão chegar desordenadas. A subrede ATM permite descartar células em caso de congestionamento, mas sob nenhuma condição permite reordenar células enviadas num circuito virtual simples. Todavia, nenhuma ordenação é feita para células enviadas em diferentes circuitos virtuais.

Redes ATM permitem diferentes tipos de categorias de serviços:

Para ser possível ter contratos de tráfego concretos, o padrão ATM define um número de parâmetros de QoS cujos valores são negociados entre transmissores e receptores. Entre estes parâmetros podemos citar: O mecanismo para usar e forçar os parâmetros de QoS é baseado num algoritmo específico GCRA (Generic Cell Rate Algorithm), que funciona pela checagem de cada célula para ver se os parâmetros conferem com os especificados para o seu circuito virtual. Tal mecanismo é conhecido como Traffic Shaping and Policing.

Redes ATM devem lidar com congestionamento a longo termo, causado por mais tráfego entrante no sistema do que pode manipular, e a curto termo, causado por rajadas no tráfego. Dessa forma, algumas estratégias são usadas, entre as quais podemos citar o controle de admissão e a reserva de recursos.

 2.1.4. A Camada de Transporte em Redes ATM

O objetivo da camada AAL é prover serviços úteis para programas de aplicações e esconder destes os mecanismos de fragmentação de dados em células na fonte e reagrupamento dessas células no destino, permitindo que usuários enviem pacotes maiores que uma célula.

Diferentes aplicações possuem diferentes requerimentos. Para suportar tais diferenças foram criados quatro classes de serviço (Classe A – D) na camada AAL, implementados por quatro protocolos (AAL1 – AAL4). Todavia, foi descoberto depois que os requerimentos para as classes C e D eram similares e, AAL3 e AAL4 foram combinadas em AAL3/4. Logo em seguida a indústria de computação descobriu que nenhuma destas implementações eram boas e definiu um novo protocolo – AAL5. AAL5 suporta serviço confiável e não-confiável, unicast e multicast, onde multicast não provê entrega garantida. A principal vantagem de AAL5 sobre AAL4 é a maior eficiência.

2.1.5. Objetivos e Fatos

ATM é um serviço orientado à conexão, mas assume o compromisso de assumir serviços orientados e não orientados à conexão.

2.1.6. Escalabilidade

Escalabilidade é uma das características mais valiosas de ATM, tendo como fatores chave sua arquitetura comutada, que permite largura de banda dedicada e o crescimento de nodos da rede de uma forma simples através da adição de portas aos switches; e sua estrutura comum de célula, que permite que pacotes não sejam reencapsulados a cada rede que atravessem.

2.1.7. Tráfego Integrado

Com um formato de célula uniforme, dados de diferentes fontes podem ser facilmente integrados em Redes ATM. Pela dedicação de recursos por um breve período de tempo por célula, dados de diferentes fontes parecem ser transmitidos de maneira concorrente. Por outro lado, não é sempre desejável ter dados com diferentes QoS juntos, pois pelos mecanismos existentes acaba-se usando técnicas que não irão atender às QoS especificadas.

2.1.8 Simplicidade da Rede

Redes de alta velocidade necessitam ser simples para não desperdiçar a capacidade de velocidade de comunicação inerente à estas. Em Redes ATM, as funcionalidades dos nodos da rede são simplificadas de três formas:

2.2. Estado da Arte

Dois importantes padrões ATM provêem suporte às redes existentes consolidadas, também conhecidas como Legacy Networks:

Em ATM ainda temos outros protocolos importantes que auxiliam a interoperabilidade com os protocolos, redes e tecnologias existentes, como IP Switching, Tag Switching e NHRP. Estes não serão abordados por questões de limitação de espaço e por serem muito específicos, fugindo um pouco dos objetivos do trabalho presente.

2.3. Obstáculos

Redes ATM tem sido foco de muita pesquisa desde seu surgimento, e alguns problemas devem ser entendidos e superados para que novas aplicações possam tirar todas as vantagens que a tecnologia oferece. Entre os obstáculos a serem superados, podemos citar:


3. Gigabit Ethernet

Gigabit Ethernet é uma extensão para os padrões IEEE 802.3 de 10 Mbps e 100 Mbps. Em julho de 1996, após meses de estudo, o IEEE 802.3 criou o grupo 802.3z. Este grupo tinha o objetivo de desenvolver o padrão Gigabit Ethernet com as seguintes características:

Este grupo identificou três objetivos específicos para as distâncias dos links: um link multimodo de fibra ótica com tamanho máximo de 550 metros; um link monomodo de fibra ótica com tamanho máximo de 3 quilômetros (depois estendido para 5 quilômetros); e um link de cobre com tamanho máximo de pelo menos 25 metros. O IEEE está também investigando a tecnologia que deveria suportar distâncias de links de pelo menos 100 metros sobre par trançado não blindado categoria 5 (UTP Cat 5). Este trabalho deve ser concluído ainda neste ano de 1998.
 

3.1. Gigabit Ethernet: Uma alternativa para LANs e Intranets de Alta Velocidade

O crescimento acelerado do tráfego da LAN está fazendo com que os administradores da rede procurem por tecnologias de rede de mais alta velocidade para resolver o problema da largura de banda. Gigabit Ethernet é uma alternativa atraente pelos seguintes critérios:

 
3.1.1. Fácil Migração para Desempenhos mais Altos

Uma das mais importantes questões com a qual os administradores de rede se preocupam é como obter uma maior largura de banda sem romper a rede existente. Gigabit Ethernet segue a mesma forma e função dos seus precursores 10Mbps e 100Mbps Ethernet, permitindo uma migração direta e incremental para uma interconexão de mais alta velocidade. Todas as três velocidades do Ethernet (Ethernet, Fast Ethernet e Gigabit Ethernet) usam o mesmo formato de quadro IEEE 802.3, operação full-duplex e métodos de controle de fluxo. No modo half-duplex, Gigabit Ethernet usa o mesmo método de acesso CSMA/CD para resolver o problema de contenção ao meio compartilhado. E ela ainda, usa os mesmos objetos de gerenciamento definidos pelo grupo IEEE 802.3.

 
3.1.2. Formato do Quadro Ethernet

É simples conectar dispositivos Ethernet existentes de mais baixa velocidade a dispositivos Gigabit Ethernet usando switches e roteadores que adaptam a velocidade de uma linha física a outra. Gigabit Ethernet usa o mesmo tamanho variável (pacotes de 64 a 1514 bytes) do quadro Ethernet e Fast Ethernet (Figura 1). Devido ao fato de que o formato e tamanho máximo e mínimo do quadro são os mesmos para todas as tecnologias Ethernet, nenhuma outra mudança é necessária.

 
3.1.3. Operação Half-Duplex e Full-Duplex

Gigabit Ethernet inclui ambos os métodos half- e full-duplex. Um repetidor half-duplex Gigabit Ethernet atua como um tradicional hub de meio compartilhado, usando CSMA/CD para controlar o acesso entre usuários.

O modo de comunicação full-duplex, no qual dois nodos podem simultaneamente enviar e receber pacotes, não requer CSMA/CD porque uma conexão deste tipo é dedicada a um único sistema, tais como um servidor ou um switch. Quase todos os produtos no mercado em 1998 são full-duplex.

O método CSMA/CD do Gigabit Ethernet foi melhorado para manter um diâmetro de colisão de 200 metros a velocidades gigabit. Sem este melhoramento, pacotes Ethernet de tamanho mínimo poderiam completar a transmissão antes que a estação transmissora percebesse a colisão, violando assim o método CSMA/CD. Para resolver este problema, ambos o carrier time do CSMA/CD e o slot time do Ethernet têm sido estendidos dos seus valores de 64 bytes para um novo valor de 512 bytes. Pacotes menores do que 512 bytes têm sido aumentados com um novo campo de extensão seguindo o campo CRC. Pacotes maiores do que 512 não são estendidos. Estas mudanças que podem causar impacto no desempenho de pequenos pacotes, têm sido compensadas por incorporar uma nova característica, chamada packet bursting, no algoritmo CSMA/CD. Packet bursting permitirá servidores, switches e outros dispositivos enviar rajadas de pequenos pacotes para utilizar completamente a largura de banda disponível.

Gigabit Ethernet também emprega métodos de controle de fluxo padrões Ethernet para evitar congestionamento e sobrecarga.

3.1.4. Objetos de Gerenciamento

SNMP define um método padrão para coletar informações a nível de dispositivos Ethernet. SNMP usa estruturas de base de informação de gerenciamento (MIB) para registrar estatísticas principais tais como pacotes transmitidos e recebidos, taxa de erro e outras informações do próprio dispositivo. Informação adicional é coletada por agentes de monitoração remota (RMON). Gigabit Ethernet usa as mesmas MIBs e agentes RMON do Ethernet para fazer o gerenciamento da rede.

 
3.1.5. Custo

O custo total de uma nova tecnologia inclui não apenas o custo associado a aquisição de equipamentos, mas também o custo de treinamento, manutenção e de ferramentas de diagnóstico da rede.

Como os produtos Fast Ethernet sofreram uma redução de preços nos últimos dois anos, Gigabit Ethernet tende a seguir essa mesma tendência. O objetivo do IEEE é fornecer conexões Gigabit Ethernet a duas ou três vezes o custo de uma interface 100Base-FX, e a medida que o volume de compras aumenta, o custo associado as interfaces Gigabit Ethernet declinarão.

 
3.1.6. Suporte a Novas Aplicações e Tipos de Dados

O grande número de aplicações emergentes conduz a uma migração para novos tipos de dados, incluindo vídeo e voz.
Ethernet permite hoje, misturar dados e vídeo através de uma combinação dos seguintes fatores:

Estas tecnologias e padrões combinados permitem entrega de vídeo e tráfego multimídia em redes Gigabit Ethernet.

 
3.1.7. Flexibilidade de Projeto de Rede

Gigabit Ethernet permite redes comutadas, roteadas e compartilhadas. Todas tecnologias de interconexão de hoje, tais como IP switching e Layer 3 switching, são completamente compatíveis com Gigabit Ethernet e Fast Ethernet. Portanto, a escolha de Gigabit Ethernet como uma rede de alta velocidade, não restringe a escolha da tecnologia de interconexão ou a topologia da rede.

3.2. Migração para Gigabit Ethernet

Devido ao fato de que Gigabit Ethernet usa os mesmos protocolos de baixo nível como o tradicional Ethernet, roteadores, switches e hubs existentes não necessitarão ser substituídos. Os switches e hubs necessitarão de alterações como a adição de módulos de ligação a Gigabit Ethernet e os grandes servidores (server farms) precisarão de novos adaptadores de rede. Dessa forma, Gigabit Ethernet pode facilmente ser incorporado em redes já existentes.

A tecnologia será aplicada em conexões do tipo, switch-to-switch, switch-to-router, switch-to-server e repeater-to-switch. Em todos estes cenários, o sistema operacional de rede (NOS), aplicações e drivers de interface de rede (NIC) dos computadores desktop permanecerão inalterados.

 
3.2.1. Atualizando Conexões Switch-to-Switch
 
 

Neste cenário,  conexões de 100 Mbps entre switches Fast Ethernet ou repetidores são atualizadas para conexões de 1000 Mbps entre switches de 100/1000. A figura 2a mostra a rede antes da atualização, enquanto a figura 2b mostra a rede após a atualização.

3.2.2. Atualizando Conexões Switch-to-Server

Neste cenário, os switches Fast Ethernet são atualizados para switches Gigabit Ethernet e a conexão entre os server farms e o switch é atualizada através da instalação de NICs Gigabit Ethernet nos server farms. A figura 3a mostra a rede antes da atualização, enquanto a figura 3b mostra a rede após a atualização.

3.2.3. Atualizando um Backbone Fast Ethernet Comutado

Um backbone Fast Ethernet que agrega múltiplos switches de 10/100 pode ser atualizado para um switch Ethernet suportando múltiplos switches de 100/1000, bem como outros dispositivos tais como roteadores e hubs com interfaces Gigabit Ethernet. Repetidores gigabit podem ser instalados quando necessário. Uma vez que o backbone é atualizado, server farms podem ser conectados diretamente ao backbone com NICs Gigabit Ethernet, aumentando assim, o throughput aos servidores para usuários com aplicações de alta largura de banda. Também a rede pode agora suportar um número maior de segmentos, mais largura de banda por segmento, e consequentemente, mais nodos por segmento. A figura 4a mostra a rede antes da atualização, enquanto a figura 4b mostra a rede após a atualização.
 

3.2.4. Atualizando um Backbone FDDI Compartilhado
 

Um backbone FDDI de um campus ou de um edifício pode ser atualizado pela substituição do concentrador FDDI ou do hub ou do roteador Ethernet-to-FDDI por um switch ou repetidor Gigabit Ethernet. Alguns usuários, como um passo intermediário, migram para um switch FDDI antes de instalar um switch Gigabit Ethernet. É requerida também a instalação de novas interfaces Gigabit Ethernet nos roteadores, switches ou repetidores. Todo o investimento no cabeamento de fibra ótica é mantido, e a largura de banda agregada é aumentada de pelo menos dez vezes para cada segmento. A figura 5 mostra as possíveis atualizações desse cenário.
 

3.2.5. Atualizando Workgroups de Alto Desempenho

Nas últimas fases de adoção do Gigabit Ethernet, NICs Gigabit Ethernet serão usados para atualizar computadores desktop de alto desempenho que serão, então, conectados a switches Gigabit Ethernet. A figura 6a mostra a rede antes da atualização, enquanto a figura 6b mostra a rede após a atualização.


4. Comparação

Para uma melhor análise das tecnologias aqui apresentadas, uma comparação é realizada sob diversos aspectos considerados importantes para ambas as tecnologias.

4.1. Complexidade

É uma tendência natural do mercado escolher soluções simples em detrimento de outras mais complexas.

Gigabit Ethernet é considerado um padrão simples, já que constitui-se numa extensão de um padrão também bastante simples, apesar de usar algumas técnicas avançadas de transmissão e codificação de dados e Processamento Digital de Sinal (DSP).

ATM é uma tecnologia bastante complexa, o que é agravado por ser uma tecnologia nova e revolucionária.

 
4.2. Amadurecimento

A tecnologia Gigabit Ethernet, mais uma vez se vale do fato de ser uma extensão de uma sólida e madura tecnologia, o Ethernet. Neste aspecto, Gigabit Ethernet herda os fundamentos de uma tecnologia madura, apesar de herdar também suas limitações. Os padrões ATM para tráfego de dados estão completos, o que significa que produtos de diferentes fabricantes que aderiram aos padrões irão interoperar sem maiores problemas.

4.3. Preço

Este aspecto é muitas vezes determinante na escolha de uma tecnologia.

Gigabit Ethernet a 1 Gbps é uma solução significativamente mais barata que ATM a 622Mbps. Mas, deve-se levar em consideração não apenas o custo associado a uma ou outra e sim a relação custo-benefício.

Dessa forma, deve ser analisado o cenário da rede a ser implementada, as aplicações a serem utilizadas, o que determinará a importância de parâmetros como QoS, largura de banda e escalabilidade dentro do contexto, e portanto permitirá a escolha de uma ou outra tecnologia.

4.4. Base Instalada

Considerando a base instalada, propriamente dita, ATM estaria a frente de Gigabit Ethernet, já que produtos ATM estão no mercado desde 1994. Porém, mais uma vez Gigabit Ethernet é favorecida pela sua família Ethernet, herdando dela toda a base instalada.

O IDC prevê para este ano de 1998 que 86% dos equipamentos de rede serão Ethernet.

4.5. Pessoal Treinado

Mais uma vez por herdar de uma tecnologia madura e solidificada, Gigabit Ethernet, conta com uma sólida base de pessoal treinado e capacitados nas tecnologias Ethernet e Fast Ethernet.

Uma outra vantagem do Gigabit Ethernet é a existência de uma variedade de ferramentas de teste, análise e projeto de redes (simuladores, analisadores de protocolo, software de gerenciamento) para a tecnologia Ethernet, que com algumas adaptações poderão ser utilizadas nas redes Gigabit Ethernet. Isto influencia também no custo da tecnologia, pois há uma economia na aquisição e desenvolvimento destas ferramentas.

Para ATM, novas ferramentas ou novos módulos adicionais para as ferramentas existentes estão sendo desenvolvidos, implicando em um custo adicional de desenvolvimento e suporte. Entretanto, devido a pesquisa intensa, tais problemas tendem a ser resolvidos muito em breve.

4.6. Suporte a diferentes mídias (dados, voz, vídeo e imagem) - QoS.

Apesar de não ter sido concebida com o conceito de QoS em mente, Gigabit Ethernet suporta vídeo e tráfego multímidia, através da combinação de alguns fatores como mecanismos de prioridade de tráfego, uso do protocolo RSVP, assim como o uso dos novos padrões 802.1Q e 802.1p.

Como uma tecnologia de transporte, os atributos de ATM superam os de Gigabit Ethernet. ATM pode ser usado indistintamente em LANs e WANs. Suas células de tamanho fixo e pequeno e seus parâmetros de QoS as torna capaz de manipular todos os tipos de meios, incluindo dados, gráficos, imagens, vídeo e voz.

4.7. Escalabilidade

Escalabilidade está relacionada a capacidade de crescimento das redes de modo fácil e simples.

Neste fator, Gigabit Ethernet sofre as limitações de sua matriarca, a tecnologia Ethernet, apesar desta oferecer várias opções de redes. Tais limitações são especialmente visíveis quando se torna necessário ampliar os limites de velocidade da família Ethernet e estão relacionados a velocidade, a aspectos de temporização e distância.

Quando ATM está usando aplicações nativas ATM, ela oferece garantia de QoS, sendo então infinitamente escalável. Em decorrência de sua arquitetura comutada e banda dedicada, é altamente escalável tanto em números de nodos na rede como em largura de banda.


5. Conclusões

Numa breve comparação dos pontos fortes de ambas as tecnologias realizada anteriormente, restam poucas dúvidas que Gigabit Ethernet é a tecnologia a ser adotada nas instalações cujo tráfego na rede é em grande maioria de dados. Por outro lado, o ATM é especialmente indicado para ambientes de domínios de aplicação como transferências de imagens médicas de alta definição, vídeoconferência, vídeo sob demanda, emulação de circuitos, implementação de backbones e tráfego sensível a atrasos, que se beneficiariam das características de QoS do ATM. Dessa forma, conclui-se que Gigabit Ethernet e ATM não são tecnologias concorrentes e sim complementares, onde os requisitos da rede serão os fatores determinantes para a escolha da tecnologia mais adequada.

 


Abreviações

  • AAL ATM Adaptation Layer
  • ATM - Asynchronous Transfer Mode
  • ABR - Available Bit Rate
  • CBR - Constant Bit Rate
  • CDVT - Cell Delay Variation Tolerance
  • CER - Cell Error Ratio
  • CMR - Cell Misinsertion Ratio
  • CS - Convergence Sublayer
  • CSMA/CD - Carrier Sense Multiple Access with Collision Detection
  • FDDI - Fiber Distributed Data Interface
  • GCRA - Generic Cell Rate Algorithm
  • IEEE - Institute of Electrical and Eletronic Engineers
  • IP - Internet Protocol
  • ITU - International Telecommunication Union
  • LAN - Local Area Network
  • LANE - Lan Emulation
  • MCR - Minimum Cell Rate
  • MIB - Management Information Base
  • MPOA - Multiprotocol Over ATM
  • NIC - Network Interface Card
  • NOS - Network Operating System
  • NRT - Non Real Time
  • OAM - Operation and Maintenance
  • PCR - Peak Cell Rate
  • PMD - Physical Medium Dependent Sublayer
  • QoS - Quality of Service
  • RMON - Remote Monitoring
  • RT - Real Time
  • RSVP - Resource Reservation Protocol
  • SAR - Segmentation and Reassembly
  • SCR - Sustained Cell Rate
  • SNMP - Simple Network Management Protocol
  • STM - Synchronus Transfer Mode
  • TC - Transmission Convergence Sublayer
  • TCP/IP - Transmission Control Protocol/Internet Protocol
  • UBR - Unspecified Bit Rate
  • VBR - Variable Bit Rate
  • VLAN - Virtual LAN

  • Referências Bibliográficas

    Monteiro, José Augusto Suruagy. Rede Digital de Serviços Integrados de Faixa Larga (RDSI-FL). IX Escola de Computação, Recife, 1994.

    Tanenbaum, A. S. Redes de Computadores. Editora Campus, terceira edição, São Paulo, 1997.

    Karvé, Anita. Ethernet's Next Frontier. LAN the Network Solutions Magazine, Vol. 12, No. 1, pags. 40 - 47, Janeiro 1997.

    Myslewski, R., "Gigabit Ethernet Dims ATM's Future," MacUser, November 1996, p. 25.
    Wallace, B., "Gigabit-gaga," Computerworld, 26 August 1996, p. 57.

    Hardie, C., "ATM Challenger Surfaces," Electronic News, 13 May 1996, p. 4.
    ATM state of the art – LAN Emulation

    A Brief Tutorial on Atm, Zahir Ebrahim, March 1992.

    ATM Internetworking, Anthony Alles, Cisco Systems, March 1995.

    Whetten, F., "Introductory Computer Networking," 9 September 1996, pp. 39-40.

    Gigabit Ethernet accelerating the standard for speed. Whitepaper, julho de 1998.

    URL: http://www.gigabit-Ethernet.org/technology/whitepapers.

    Death to ATM. URL:http://www.herring.com/mag/issue33/atm.html.

    Gigabit Ethernet, por José grilo, IBM.

    URL: http://www.fbento.pt/red/0397/a02-00-00.html.

    Gigabit Ethernet: The Difference Is In the Details.

    URL: http://www.data.com/tutorials/gigabit.html.

    Inside Gigabit Ethernet. URL: http://www.byte.com/art/9705/sec5/art2.htm.

    ATM Lan Emulation In Workgroup Networks. URL: http://www.zeitnet.com

    An Overview of ATM LAN Emultion, by Interphase Corporation, 1995.

    URL: http://www.iphase.com

    ATM Tutorial by Newbridge Networks Corporation. URL: http://www.newbridge.com

    Switching, Ursula Schwantag, Jun 1997.

    URL: http://network-services.uoregon.edu/~ursula/thesis/node54.html

    The ATM Forum Home Page. URL: http://www.atmforum.com

    "Frequently Asked Questions About Gigabit Ethernet,"
    URL: http://www.gigabit-ethernet.org/faq.html, Gigabit Ethernet Alliance.

    "Gigabit Ethernet Migration," URL: http://www.gigabit-ethernet.org/migrate.html, Gigabit Ethernet Alliance.