O ensino universitário de criação de empresas na área de software.
A disciplina "Empreendimentos em Informática"
do Programa SoftEx 2000.
Fernando Celso Dolabela Chagas
Departamento de Ciência da Computação - UFMG
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Belo Horizonte, MG, Brasil
Abstract
The main purpose of this text is to expose the process of conception of the discipline Entrepreneuring in the Field of Information Science, which is offered in the University of Minas Gerais to the students of Computer Science. It is of the same importance to discuss the process of implementation of the discipline in the University and the strategies created to disseminate this idea throughout Brazil. The importance of this paper is also related to the positive results achieved in the three levels listed below:
- the experience with the discipline at the UFMG, which has already resulted in the creation of 17 new enterprises since the discipline was introduced in 1993;
- its inclusion in the SBC (Brazilian Society of Computing) Reference Curriculum;
- the development of SoftStart, a project that since its beginning in March, 1996 has already been responsible for the implementation of the discipline in other 46 Brazilian Universities and it is aiming to increase the number of institutions linked to he project up to 50 in 1997.
Sumário
O objetivo deste texto é relatar o processo de concepção da disciplina "Empreendimentos em Informática" para os cursos de graduação em Ciência da Computação, a experiência piloto de sua implantação na UFMG e as estratégias do programa criado para a sua disseminação em todo o Brasil. A importância deste relato deve-se aos resultados alcançados em três frentes: na experiência piloto da disciplina na UFMG, em que 17 empresas foram criadas após o oferecimento da disciplina durante três semestres, na sua inclusão no Currículo de Referência da SBC; no programa criado para a sua disseminação, o projeto SoftStart que já em seu primeiro edital promoveu a implantação da disciplina em 46 universidades brasileiras, com a meta para 1997 de ampliação para o total de 50 instituições. Neste texto o autor enfatiza a metodologia didática da disciplina, entendida como instrumento catalisador da cooperação entre a universidade e os "sistemas de suporte" (forças da sociedade), única conjunção capaz de viabilizar um sistema de estímulo à criação de empresas de base tecnológica.
I - As motivações para a criação da disciplina
Motivação interna ao Programa SoftEx 2000
Para atingir a sua meta central de aumento da exportação do software brasileiro o programa SoftEx 2000, do Conselho Nacional do Desenvolvimento Tecnológico e Científico - CNPq, desenvolve inúmeras atividades voltadas para o fortalecimento da capacidade nacional de criação e exportação de softwares. Nesse sentido, uma de suas metas é o aumento do número de empresas no setor, para formar uma massa crítica com volume e capacitação técnica capaz de enfrentar a competitividade internacional. Entre as principais condições necessárias ao sucesso de uma indústria de software, avalia-se que o Brasil já conquistou a principal, ou seja, pessoas com know how de alto nível e em quantidade suficiente. De fato, os profissionais brasileiros, principalmente os formados pelos cursos universitários de Ciência da Computação, têm uma formação técnica equivalente à de países do primeiro mundo, em condições, portanto, de desenvolver softwares de padrão internacional. Por outro lado, a criatividade natural do brasileiro, acentuada e lapidada pela constante exposição às violentas transformações da nossa sociedade, constitui-se vantagem comparativa sobre outras regiões. Desta forma, faltaria ao estudante universitário o estímulo e suporte à criação de seu próprio negócio. Nascia assim, dentro da política industrial criada pelo SoftEx 2000, uma proposta inovadora do currículo do ensino universitário de informática: a introdução de uma disciplina de criação de empresas.
Outras motivações
As mudanças nas relações de trabalho
As mudanças mais marcantes no mercado de trabalho, nas últimas décadas, são identificadas como a retração do nível de emprego e a alteração do próprio conceito de empregabilidade. Estima-se que nos próximos anos grande parte da força de trabalho na indústria estará em situação de dedicação parcial, caso permaneça a atual relação direta entre o aumento da produtividade das empresas e dispensa de trabalhadores. Países como EUA e França apresentaram crescimento dos níveis de desemprego no período de 1990 a 93, níveis que foram elevados na Grã-Bretanha (74,6%) e na Espanha (30,3%). Tais países sofreram uma desaceleração acentuada, tanto nas taxas de crescimento dos gastos públicos, quanto nas taxas de consumo das empresas privadas. Nos EUA, em 1993, a proporção de trabalhadores permanentemente demitidos em relação aos temporariamente demitidos era de 4 para 1, superando os períodos de 1975 e 1982, considerados como de acentuada recessão. Além disso, a força de trabalho temporária, por sua vez, aumentou em 60% desde 1980. As alterações econômicas são decorrentes da reestruturação da forma mundial de organização da produção, representada pelo esgotamento do "estado do bem estar social" e predominância do neoliberalismo, e pelas inovações tecnológicas (principalmente tecnologias de base microeletrônica) e organizacionais (encurtamento das cadeias de comando, o downsizing organizacional, a descentralização das decisões). Também a terceirização que, além das tarefas periféricas da produção, já atinge as funções centrais das empresas, (presença de fornecedores de componentes nas linhas de montagem de automóveis, por exemplo), contribui para alterações nas relações de emprego. Em função da busca pelas empresas de um nível de produtividade que lhes permita entrar e sobreviver em um mercado altamente concorrencial, o conceito de emprego começa a dissociar-se da noção de cargo, passando de fixo e pertencente à organização, para um conjunto de atividades que podem ser desenvolvidas por pessoas sem vínculo trabalhista com a empresa. O emprego fixo, se a tendência persistir, cederá lugar à contratação de serviços vinculada a uma necessidade específica de produção e/ou trabalho. Os países do terceiro mundo, apesar de suas condições sócio-econômicas diferentes dos países centrais, estão incluídos neste quadro geral de mudanças (a exemplo do Brasil onde, no período de 1990 a 1993 o desemprego cresceu 25,6%, ao mesmo tempo em que diminuiu em 3,6% a participação do setor formal na economia). O ensino na área de empreendedorismo assume papel tão fundamental que levou Timmons a fazer o seguinte comentário: "Em resumo, nós estamos no meio do que se pode chamar a ‘Revolução Silenciosa’ ...(o esforço global em torno do entrepreneurship). É completamente possível que ela influencie o século 21 tanto quanto, ou talvez mais, do que a Revolução Industrial influenciou o século 20."
A formação do aluno
A introdução de disciplinas de criação de empresas no ensino universitário tem um caráter revolucionário, já que acresce à vocação tradicional de formação de empregados e acadêmicos, aquela do empreendedorismo, mais adequada às relações de emprego decorrentes da restruturação da economia mundial neste final de século. A prática desta disciplina tem demonstrado outros alcances do seu conteúdo, principalmente considerando-se a sua aplicação em cursos de graduação no campo das ciências exatas. Pesquisas em sala de aula demonstraram, surpreendentemente, que os alunos consideram a disciplina fundamental mesmo para aqueles que não pretendem abrir empresas, e cuja vocação é, por exemplo, determinantemente para a área acadêmica. Tais resultados conduziram a indagações e análises sobre a formação de alunos nas áreas de ciências exatas, frente às exigências do mercado. De fato, a realidade conceitual trabalhada em sala de aula difere da sua aplicação no mundo não teórico. Levantamentos feitos juntos a empreendedores apontam que o conhecimento puramente tecnológico na área de software, pode representar algo entre 5 e 15% da solução global. Ou seja, os conhecimentos adquiridos em cursos de Ciência da Computação no Brasil (alguns do mesmo nível de equivalentes no primeiro mundo), representam um percentual mínimo dos problemas a serem enfrentados na criação, desenvolvimento e venda de um produto. Esta conclusão - confirmada ao extremo, principalmente na área de informática, em que exemplos de fracassos de produtos tecnologicamente superiores são freqüentes, ao lado do quase rotineiro sucesso comercial de softwares de desempenho técnico inferiores aos dos concorrentes - conduz inevitavelmente a reflexões sobre os programas curriculares na área de Ciência da Computação. São abordados conceitos que regem a realidade nas relações de trabalho: a emoção (nas empresas, o quociente emocional substitui o quociente intelectual), a ênfase no ego, a convivência com a ambigüidade e incerteza, a aplicação contextual dos conhecimentos, o desenvolvimento do processo visionário. A disciplina lida também com fatores de natureza cultural, determinantes do grau de empreendedorismo de uma região, de uma comunidade. São discutidos e revistos os valores que regem a percepção popular e intuitiva da empresa no Brasil, contexto em que os princípios éticos têm relevância fundamental.
A disciplina prioriza o comportamento ( o ser) em relação ao saber como um fim em si mesmo. Desta forma, o objetivo final da disciplina não é instrumental. A proposta não é a transmissão de conhecimentos, mas o esforço no desenvolvimento de características pessoais necessárias ao empreendedor de sucesso. Não se visa a criação de empresas de sucesso, mas sim a formação de empreendedores. Para este último, o eventual fracasso da empresa é visto antes como um resultado, com o qual saberá aprender. A atividade de empreender, representada principalmente pela identificação e aproveitamento constante das oportunidades, faz parte da rotina do empreendedor.
Apesar de estar ainda em fase pré-paradigmática enquanto ciência, o empreendedorismo já propõe conceitos que permitem a identificação de condições de sucesso na criação e gestão de negócios. Assim, o ensino nessa área fundamenta-se na análise de algumas características básicas, fundamentalmente comportamentais, encontradas no empreendedor de sucesso. A ênfase na construção de um perfil de empreendedor (perfil este que conduz a uma capacidade de aquisição pró-ativa de know how) e não somente na aquisição de um estoque de conhecimentos, é ilustrada por uma pesquisa relatada por Timmons, em que capitalistas de riscos direcionados para empresas de base tecnológica, ao escolher empresas onde investir, dão prioridade absoluta para o empreendedor, relegando a um segundo nível a definição do produto e a sua viabilidade mercadológica, já que "se alguém tem um boa equipe, pode mudar o produto".
II - As questões centrais do ensino universitário de empreendedorismo
Questões fundamentais, algumas configurando verdadeiros paradoxos, surgiram como desafio a uma proposta metodológica que pudesse equacioná-las. A primeira questão diz respeito a indagações sobre como e em que condições pode se verificar o ensino nesta área. O que ensinar? É possível ensinar alguém a tornar-se empreendedor? Como fazê-lo? O empreendedor nasce pronto, é resultado de genes favoráveis? São indagações similares àquelas feitas em relação ao gerente, há 50 anos. Uma conclusão que decorre das pesquisas é que é possível aprender-se a ser empreendedor, mas certamente sob condições diferentes daquelas propostas pelo ensino tradicional.
A segunda questão emerge da discussão precedente e pode ser enunciada da seguinte forma: a universidade está capacitada a ensinar o empreendedorismo, considerando-se os seus métodos tradicionais de ensino, o estágio não estruturado do ramo do conhecimento, e ainda, levando em conta que o empreendimento na área de negócios não é prática dos nossos campi universitários ?
A terceira questão central refere-se ao perfil do professor desta disciplina. Qual o seu papel num programa didático em que o comportamento é o alvo maior, e em que o conhecimento não é transmitido pelo mestre, mas gerado pelos próprios alunos, no processo de elaboração da sua visão de empresa, na autoavaliação do seu comportamento, na construção de seus métodos próprios de aprendizado, na forma pró-ativa de agir ? Qual o papel do professor tradicional no seu mister de ensinar empreendedorismo, área em que as relações com o ambiente natural do empreendedor constituem a fonte essencial de conhecimento/aprendizado ? Nesta área, a conexão do aluno com o mundo exterior à universidade precisa ser intensa e sem intermediários. O verdadeiro ambiente "acadêmico" do aluno-empreendedor é o mercado, onde se articulam forças produtivas, econômicas, sociais, políticas. Nesse contexto, o estoque de conhecimentos que o empreendedor necessita é altamente mutante e contingencial. O saber confunde-se com a capacidade de percepção do comportamento do mercado concorrencial, composto por conjuntos de pessoas cujas ações provocam a sua transformação constante que, por sua vez, é geradora do alvo que o empreendedor incansavelmente persegue: a oportunidade. Como entender e abordar esta inversão do campus acadêmico? Como vencer o paradoxo do ensino pela universidade de um conhecimento que ela ainda não domina? O modelo de ensino universitário dirigido para a formação de empregados de grandes empresas cumpriu a sua missão. Esgotou-se, porém, diante das profundas alterações nas relações de trabalho e produção. A tendência emergente, o empreendedorismo, exige novos métodos de ensino, diferentes papéis para o professor, formas alternativas de interação com os alunos.
Alguns pesquisadores acham que é possível aprender-se a ser empreendedor. Outros acham que é possível ensinar. A metodologia proposta para a disciplina aborda o problema de forma pragmática. Enquanto tais questões são discutidas no meio acadêmico, há, em todo o mundo, uma febre de criação de empresas e de ensino de empreendedorismo. Se a universidade, por seus objetivos e missão, não empreende na área de negócios, esta disciplina responde convidando empresários a assumirem o papel de mestres, lado a lado com o professor. Se os elementos essenciais ao empreendedor são a sua capacidade de criar, definir a partir do indefinido, de aprender constantemente a partir da ação, enfatizam-se no curso características comportamentais de criatividade, do pensamento difuso, da parceria definitiva dos dois lados do cérebro, do conhecimento autônomo, pró-ativo, do aprender a aprender. Se o importante neste campo é antes ser do que saber, invertem-se os papéis entre professores e alunos, como inverte-se o fluxo do saber. Os alunos são os agentes de geração de um conhecimento individualizado, da adoção de comportamentos adequados à realização da sua visão. Os pressupostos da formação do empreendedor baseiam-se mais em fatores motivacionais e habilidades comportamentais do que em um conteúdo puramente instrumental. Esta característica irá provocar, como se verá mais tarde, mudanças radicais na abordagem educacional, tanto em termos de orientação profissional, uma vez que as nossas universidades estão mais voltadas para a formação do empregado de grandes empresas, como no que diz respeito à própria metodologia de ensino, já que no campo de criação de empresas o objetivo não é a transferência de conhecimentos, mas a geração de conhecimentos pelo ator do processo, o aluno. Portanto, os papéis do professor e do aluno são transformados: aquele é somente um agente indutor do processo de autoaprendizado pelo aluno, cuja tarefa é o desenvolvimento de habilidades comportamentais inspiradas na própria bagagem (formação) existencial-psicológica. O saber específico, instrumental, é conseqüência da forma de ser, da atitude diante dos objetivos de se criar um negócio. A empresa é uma projeção e extensão do próprio ego.
No que diz respeito ao ensino de empreendedorismo a questão é resolvida, mais uma vez, de forma pragmática. Experiências de sucesso, em todos os níveis de ensino (inclusive do primeiro grau), têm sido realizadas em todo o mundo. Sabe-se que fatores fundamentais para o desenvolvimento do espírito empreendedor apoiam-se, entre outros, em elementos tais como a motivação à autorealização, iniciativa e persistência, energia, liderança, capacidade de desenvolver uma visão (idéia de empresa), suportada por uma rede de relações pessoais.
III - O contexto do empreendedorismo
Outras motivações para o ensino do empreendedorismo, além da natureza indutiva visada pelo programa SoftEx 2000, justificam a introdução do ensino universitário nesta área, em ampla escala. Entre elas está o alto índice de mortalidade infantil entre as empresas emergentes. Tais índices, verificados em todo o mundo, motivaram Timmons a formular a regra da falência. O ensino teria o objetivo de reduzir o nível de inconsistência e inadequações na criação de empresas. É importante que o pré-empreendedor tenha a percepção de que a idéia é diferente da oportunidade, e que esta deve adequar-se às características pessoais do empreendedor.
Outra importante motivação para o ensino na área de empreendedorismo é o desenvolvimento da noção dos mecanismos que regem o mercado, e das relações entre a excelência técnica e a aceitação de um produto e/ou serviço pelos consumidores. Entre os estudantes e profissionais da área de informática inseridos no mercado de trabalho, é comum a ênfase nos aspectos técnicos e a colocação em plano secundário das demais variáveis que determinam o sucesso do produto/serviço. É freqüente também, devido ao seu infinito espectro de aplicação, tomar-se como sendo negócios de informática, atividades em que esta última entra somente como meio. Estas distorções muitas vezes conduzem os empreendimentos a fracassos. Mas, sem dúvida, um dos erros mais freqüentes na área de software é a suposição segundo a qual tendo desenvolvido um produto melhor do que os da concorrência, o sucesso estará garantido.
IV - O projeto da disciplina: uma experiência de interação entre a empresa, a universidade e os sistemas de suporte.
Uma das grandes conquistas do Programa SoftEx tem sido justamente o processo que se buscou para a viabilização dos seus objetivos, ou seja, a cooperação efetiva das forças da sociedade. A simples indução a esta prática ainda incipiente no Brasil, configura um resultado de profundas repercussões na política industrial do setor e na convivência entre o poder público, as empresas e a universidade. É necessário lembrar que a operacionalização do SoftEx se dá através de núcleos (atualmente 20) localizados em cidades com perfil e potencial para o alcance das metas do programa. Para a criação de um núcleo é exigida uma parceria formal entre os governos do Município, do Estado, dos empresários e de uma universidade atuante na área, além da participação de outros sistemas de suporte como SEBRAE, Assespro, etc. Somente esta conjunção de forças da sociedade oferece suporte real para a tarefa de estímulo e apoio à criação de empresas. Na sua essência, o empreendedorismo diz respeito ao crescimento e desenvolvimento econômicos, dadas as características de distribuição de renda das pequenas empresas.
A disciplina "Empreendimentos em Informática" nasceu, portanto, através de uma indução externa à universidade. O Programa SoftEx 2000, por meio do núcleo de Belo Horizonte, a FUMSOFT, contratou o autor deste texto para desenvolver um conteúdo para a disciplina, com o objetivo de sua implantação em cursos de graduação em informática. A metodologia de desenvolvimento do programa da disciplina incluiu a coleta de sugestões junto a empresários de vários núcleos do sistema SoftEx. As contribuições vieram de diversas formas. Reuniões com empresários da FUMSOFT, narrativas verbais de recomendações de empresários de outros estados, telefonemas, faxes e a experiência pioneira da UFRS, onde esta disciplina era lecionada havia já alguns anos. O substrato teórico para a formulação do conteúdo da disciplina foi aportado, principalmente, através dos resultados de pesquisas do Professor Louis Jacques Filion, da Universidade de Montréal, Québec, Canadá.
V- A metodologia didática proposta para o ensino universitário de empreendedorismo
O maior desafio na elaboração da proposta metodológica para a disciplina foi representado pela necessidade da proposição de soluções para as questões fundamentais citadas, em síntese::
- Como ensinar empreendedorismo ?
- Como ensinar empreendedorismo na universidade ?
- Como permitir que a disseminação da disciplina se dê através de professores com diferentes formações acadêmicas ?
A seguir a metodologia é apresentada em dois grandes grupos: considerações sobre os pontos centrais do conteúdo a ser abordado e as soluções metodológicas propriamente ditas.
a - Os pontos centrais do conteúdo.
Motivação para empreender
Um dos motivos centrais da disciplina é despertar o aluno para a área de empreendedorismo, motivando-o a criar a sua empresa ou a gerar o próprio emprego. Isto não significa que o curso pretenda que o aluno abra o próprio negócio logo após a disciplina. Na verdade, este seria um resultado surpreendente. O que se pretende é que o aluno possa incorporar ao seu potencial a opção de geração do autoemprego e que persiga tal objetivo durante a sua evolução profissional. Quando ele ou ela irá abrir o seu próprio negócio será uma questão pessoal, de amadurecimento, aprendizagem, desenvolvimento da sua visão, percepção e aproveitamento de uma oportunidade. Há empreendedores que deliberadamente procuram empregos na sua área de interesse visando a formação de uma bagagem (em termos de conhecimentos técnicos, mercadológicos, de relações) para a abertura posterior do próprio negócio. Como se verá adiante, os critérios de avaliação da disciplina pressupõem uma temporalidade que extrapola o ciclo escolar. O que esta avaliação irá buscar será o quanto o direcionamento profissional do ex-aluno terá sido influenciado pela disciplina. Não há receitas nem limites de idade para a abertura do próprio negócio.
O processo visionário
Segundo Filion, o empreendedor é visto como alguém que imagina, desenvolve e realiza visões. O desenvolvimento da visão é um dos fundamentos do curso. O aluno é chamado a desenvolver o próprio processo visionário, cujo resultado é a empresa, e a exercitar a sua capacidade de projeção no futuro, através de exercícios visionários.
Os 4 elementos descritos por Filion, que suportam e interagem dinamicamente entre si, são trabalhados em sala de aula, através de exercícios. Eles compõem os elementos de base para o processo de modelagem, que consiste na captura, de forma estruturada, das experiências de empreendedores narradas em sala de aula.
Comportamento empreendedor
As principais características comportamentais dos empreendedores, descritas por pesquisas são apresentadas e discutidas com o alunos. Este módulo, agregado ao processo visionário, o qual complementa, compõem o arcabouço teórico-conceitual do curso. Como se verá adiante, o perfil do empreendedor será confrontado com o depoimento de experiências reais, tanto nos depoimentos, como na entrevista e nas intervenções do "padrinho". O aluno também é submetido a testes de autoavaliação, para aferir o próprio comportamento empreendedor. São enfatizadas as habilidades requeridas em termos de know why (atitudes, motivação, valores), know how (conhecimento), know who (relações), know when (oportunidade), know what (o negócio)
Criatividade
A criatividade compreende o ciclo cujas etapas são a descoberta, a invenção, a inovação, a melhoria e o processo de mudanças . A criatividade é fundamental para a identificação de novos paradigmas que poderão configurar uma oportunidade de negócio. Exercícios de criatividade são propostos e os alunos são convidados a expor a abordagem de Oech, de quebra dos bloqueios mentais que inibem a criatividade.
Capacidade de identificação, análise e aproveitamento de oportunidades.
É preciso lembrar que idéias não são necessariamente oportunidades, mesmo reconhecendo-se que sempre uma oportunidade seja fruto de uma idéia. Existem idéias em número muito maior do que boas oportunidades de negócios. Uma das características da oportunidade é que ela deve se adequar ao perfil e características do empreendedor. Assim, uma idéia pode ser uma excelente oportunidade para um determinado empreendedor enquanto que, para outro, por variados motivos (que vão desde a competência, aptidão, disponibilidade, vocação, interesse, recursos de capital, etc.), pode não representar um negócio. Normalmente as novas oportunidades surgem de mudanças na economia, nos hábitos e perfil da população, em avanços tecnológicos, nas circunstâncias, nas inconsistências do mercado. Ela é traduzida em um produto ou serviço que adicione valor ao seu consumidor. Deve ser atraente e com um ciclo de vida que permita um retorno satisfatório. A melhor idéia nem sempre faz a diferença crítica do sucesso.
A busca e administração de recursos: o "Plano de Negócios"
O "Plano de Negócios" (PN) é o trabalho do curso. É um exercício de planejamento da criação de um empreendimento. Para ter validade, deve ser desenvolvido em bases realísticas: um PN bem feito deverá estar em condições de ser implantado, de se transformar em uma "empresa incubada", de sensibilizar parceiros e investidores. Na elaboração do seu Plano, o empreendedor poderá descobrir que o empreendimento é irreal, que existem obstáculos jurídicos ou legais intransponíveis, que os riscos são incontroláveis, ou que a rentabilidade é aleatória ou insuficiente para garantir a sobrevivência da empresa ou do novo negócio. Existe mais de um caminho para se chegar ao mesmo objetivo e mais de uma solução para os diferentes problemas. É melhor fazer uma escolha que garanta sucesso a longo prazo do que escolher a solução mais imediatista de sucesso aparente. O Plano de Negócios pode também conduzir à conclusão que o empreendimento deva ser adiado ou suspenso por apresentar alta probabilidade de fracasso. O Plano de Negócios contém os principais pontos de cunho gerencial a serem considerados na criação de um empreendimento.
b - As soluções metodológicas
Enterprise way
A metodologia de ensino utilizada nesta disciplina é inspirada nos processos de aprendizagem utilizados pelo empreendedor na sua empresa. Para se encontrar efetividade didática na área de empreendedorismo é essencial que o ensino seja insistentemente contextualizado. Deve-se submeter o aluno pré-empreendedor a situações similares àquelas em que encontrará na prática. O processo de aprendizagem do empreendedor, na pequena empresa, é essencialmente baseado em ações. Segundo Allan Gibb, (1992) ele aprende da seguinte forma:
- Solucionando problemas
- Fazendo sob pressão
- Interagindo com os pares e outras pessoas
- Através de trocas com o ambiente
- Aproveitando oportunidades
- Copiando outros empreendedores
- Pelos próprios erros: é uma área em que se podem cometer erros (pequenos) porque há liberdade.
- Através do feedback dos clientes
O propósito do curso é fazer com que os alunos freqüentemente cruzem os muros da universidade para entender o funcionamento do mercado, e estando em sala de aula, submetê-los a processos de trabalho semelhantes àqueles desenvolvidos pelos empreendedores. Essa metodologia é chamada de enterprise way. A teoria é preferencialmente abordada através de sua aplicação à realidade, privilegiando as características do mercado e da economia locais. A abordagem didática fará uso de casos, jogos, estudos de biografias, teatro popular. A forma de seminário será priorizada em relação à exposição teórica. Depoimentos de empresários são imprescindíveis. Através deles é que os alunos conhecerão diferentes experiências de criação de empresas. O processo de "modelagem" é um instrumento criado para a análise e absorção da vivência relatada pelo depoente. Deve-se induzir o aluno a um grau elevado de "exposição" durante o curso, de forma a prepará-lo para situações de negociação. Assim, é importante que os papéis do professor e do aluno sejam intencionalmente invertidos: o aluno é sempre chamado a transmitir (ensinar) para toda a turma os conhecimentos que ele próprio gerou: a sua idéia de empresa, a definição do seu produto, a sua visão do mercado, o seu plano de negócios. A capacidade de crítica, isenta e objetiva, é estimulada junto aos alunos, que se transformam em avaliadores dos colegas. Assim, o primeiro "teste" da empresa do aluno e do produto será feito em sala de aula: os seus pares assumem as funções de clientes, fornecedores, financiadores, sócios.
Recursos didáticos freqüentemente utilizados no enterprise way:
- Seminários, discussões em grupo
- Revisões críticas
- Apresentações dos alunos
- Ensino e aconselhamento pelos pares
- Resolução de problemas reais
- Debates
- Casos
- Análise de incidentes críticos
- Imagens de papel e auto-identificação
- Aprendizagem baseada no projeto
- Abordagem de consultor/conselheiro
- Aprendizado experimental
- Avaliação pessoal ou dos parceiros
- Investigação
- Brainstorming
Os conteúdos de treinamento
Os conteúdos de cursos na área de empreendedorismo são definidos a partir da identificação das tarefas enfrentadas pelo empreendedor em cada fase do processo de criação, desenvolvimento e consolidação de uma empresa. Conteúdos de treinamento são propostos em função das necessidades de cada estágio. Uma classificação das fases do processo de criação de empresas pode ser apresentada da seguinte forma,:
a) Aquisição da motivação para a criação do próprio negócio
b) Desenvolvimento da idéia. Processo visionário
c) Validação da idéia
d) Definir a escala de operação e identificar os recursos necessários
e) Formatação total do empreendimento, como instrumento de negociação
interna e externa (Plano de Negócios)
f) Início das operações
g) Consolidação, sobrevivência
O programa aqui apresentado aborda as seguintes fases acima mencionadas: b) da idéia primária até uma idéia válida; c) da idéia válida até a escala de operação e identificação de recursos; d) da escala ao Plano de Negócios e negociação; e) da negociação ao nascimento. As fases a) da motivação até a idéia inicial e b) do nascimento à sobrevivência, exigem programas de treinamento específicos, não abordados no presente trabalho. A fase a) tem um conteúdo voltado para a prospecção de idéias enquanto que a f) tem um conteúdo mais instrumental, com ênfase em técnicas administrativas e gerenciais. Por seu escopo, o programa proposto evita intencionalmente a forma tradicional do ensino na área de administração de empresas. O conteúdo técnico relativo a marketing, finanças, organização, relações humanas é visto sob outra ótica. As diretrizes da disciplina apoiam-se nos seguintes pressupostos:
- A atividade de criação de um negócio é holística e integrada, isto é, diz respeito ao negócio e ao empreendedor no seu todo, e não em partes fragmentadas. É fundamentalmente um ato humano criativo.
- Ainda citando Timmons (1990), empreender no mundo dos negócios pressupõe criar e construir algo de valor a partir de praticamente nada. Ou seja, o empreendedorismo é o processo de criar ou aproveitar uma oportunidade e persegui-la a despeito dos recursos controlados. Envolve a definição, criação e distribuição de valor e benefícios para indivíduos, grupos, organizações e para a sociedade. Raramente é um proposição de enriquecimento rápido; é antes a construção de valor a longo prazo e de uma corrente durável de fluxo de caixa.
- Existe uma tendência em se repetir em cursos como este, de forma sintética, o programa de um curso de bacharelado em administração de empresas, o que é uma inadequação de dimensionamento e uma impropriedade didática. De fato, há uma grande diferença entre o ensino visando a formação de empreendedores e o dirigido ao desenvolvimento de gerentes. Enquanto que "o treinamento para a atividade empreendedora deve capacitar o empreendedor para imaginar e identificar visões, desenvolver habilidades para sonhos realistas", o treinamento de gerentes "enfatiza as habilidades analíticas". (Filion, Vision and Relations: Metamodels, 1990)
- Um traço característico do empreendedor, e neste aspecto há concordância entre os pesquisadores, é a sua capacidade de desenvolver métodos próprios de aprendizado. Repousa neste componente a dinâmica de sua evolução, ou seja, a capacidade de aprender no desenvolvimento da ação, com esta e no seu ritmo, adquirindo condições de intervenção em tempo real e alto poder de antecipação e previsibilidade. O ensino deve ser contextualizado, privilegiando o aprendizado decorrente da ação.
- O trabalho principal do curso, (bem como os demais) o "Plano de Negócios", é proposto ao aluno sob esta ótica. As dificuldades que este porventura encontrar na sua elaboração devem ser superadas com base na sua iniciativa e capacidade de encontrar respostas às suas indagações de forma pró-ativa. Tenta simular a forma de percepção e apreensão da realidade utilizada pelo empreendedor.
Depoimentos de empreendedores
Empreendedores serão chamados a comparecer à sala de aula para falarem sobre sua experiência na área de negócios, abordando, principalmente, os aspectos pessoais do seu envolvimento. Grande importância é dada ao depoimento de empreendedores, cuja vivência na área irá ser um dos componentes didáticos mais valiosos. É indispensável ao empreendedor que se inicia conhecer os caminhos percorridos por aqueles que alcançaram sucessos e também por aqueles que amargaram fracassos. O depoimento é imprescindível à formação e/ou enriquecimento da visão do aluno no que diz respeito ao perfil do empreendedor e àquilo que se entende como empreendimento. Deve-se escolher um empreendedor que tenha criado o próprio negócio, uma vez que o conteúdo a ser transmitido é justamente a formação da visão, a idéia da empresa, do primeiro produto, do primeiro cliente, da abordagem do mercado, da passagem de um estado de não empreendimento para a criação do próprio negócio. É muito importante o relato da transformação na vida pessoal: as novas relações pessoais, a reação do núcleo familiar, os rendimentos incertos. Devem ser destacadas as relações de interdependência com o ambiente interno e externo: colaboradores, empregados, clientes, fornecedores, concorrência, sócios. Para possibilitar que os depoimentos sejam capturados e percebidos de forma estruturada, no sentido de que uma estrutura comum permite a análise e comparação, criou-se uma metodologia específica para esta disciplina.
Tal metodologia utiliza duas ferramentas:
- um roteiro para o depoente, que sugere um curso de informações voltadas para o conteúdo do curso. São privilegiados os dados sobre a pessoa e o que ela faz, em contraposição à abordagem tradicional do ensino da administração, que visa o que é feito e como é feito.
- Guia de modelagem, para o aluno extrair estruturadamente dos depoimentos dos empresários aquilo que for essencial. Ele coloca-se na posição de empreendedor e tenta absorver a essência de comportamentos, atitudes, práticas que podem ser incorporadas à sua forma empreendedora de agir.
A prática tem demonstrado que depoimentos sobre situações que ensejaram fracassos empresariais são extremamente ricos, devido à possibilidade de identificação de causas objetivas que provocaram o insucesso.
Julgamento dos "Planos de Negócios": O Júri.
Após o final do curso será criado um Júri, integrado por pessoas representativas da área empresarial, para avaliar as melhores "empresas". O Júri avaliará o trabalho final da disciplina, o planejamento total de uma empresa, feito através do Plano de Negócios. O objetivo do Júri é integrar o novo empreendedor à comunidade de negócios. Os prêmios oferecidos às empresas são também estímulo material à abertura dos novos negócios. O julgamento deverá, de preferência, priorizar os projetos que apresentem maiores condições de viabilização imediata. Outras categorias de avaliação poderão ser criadas. Deve-se observar que os prêmios sejam dados às empresas legalmente constituídas (e não a pessoas físicas) e devem contribuir diretamente para a criação da empresa. É importante que o professor da disciplina e a instituição a que pertencem busquem formas de premiar os melhores trabalhos. Experiências nesse sentido têm demonstrado que os prêmios dirigidos às empresas servem de forte estímulo e suporte ao novo empreendedor.
O "Padrinho"
É importante que a rede de relações do novo empreendedor o auxilie desde o momento em que planeja a sua empresa. Um passo nesse sentido é a escolha de um "padrinho", um empresário experiente, de quem possa extrair conselhos e orientações. Não é necessário que seja do mesmo ramo, o que importa é a vivência no campo da criação de novos negócios. O "padrinho" atuará como um conselheiro durante todo o processo de concepção e elaboração do "Plano de Negócios". Ele deve analisar o modelo de Plano de Negócios junto com o aluno, acompanhar o seu preenchimento e ser a primeira pessoa a examiná-lo depois de pronto. O aluno, antes de apresentar o PN em sala, deverá fazê-lo para o padrinho. A escolha do padrinho será também o primeiro passo efetivo do pré-empreendedor na formação de sua rede de relações. O "padrinho" deverá auxiliar o aluno no seu processo de aprendizagem pró-ativa, indicando fontes e caminhos para que ele busque as respostas às suas dúvidas em todos os níveis, principalmente nos conteúdos relativos ao planejamento financeiro e mercadológico do novo negócio. Não deve funcionar como uma instância "solucionadora de problemas", mas como alguém que possa auxiliar na formulação das perguntas corretas.
Perfil do professor-instrutor
O instrutor assume o papel de facilitador, organizador do processo de aprendizagem. Não se coloca na pele de um especialista, mesmo porque não há uma "versão certa". Ele não deve assumir a posição do professor tradicional, no sentido de ser uma fonte de todos os conhecimentos de que trata a disciplina. Ele precisa manter, além dos vínculos acadêmicos, uma proximidade com o ambiente empresarial e político-econômico (sistemas de suporte) e trazer o seu network para a sala de aula. Sob este prisma, as funções do instrutor são vistas principalmente como um elo de ligação do aluno com o mundo empresarial. Deve ter também uma visão multidisciplinar, agregando especialistas em torno da disciplina, e criando um ambiente em que seja possível o conhecimento através da ação, uma vez que o aluno deve aprender como o empreendedor, de forma pró-ativa. A relação professor-aluno é vista de outro ângulo: o ator principal é o futuro empresário. A figura do padrinho, criada pela metodologia, servirá de complemento ao papel do instrutor.
VI - A avaliação da disciplina. Uma nova proposta.
A metodologia de avaliação proposta para a disciplina foge aos padrões usuais, uma vez que somente parte dela é feita durante o curso. Na verdade, ao final da disciplina o trabalho está apenas começando. É essencial que se acompanhe o aluno após a sua saída da universidade, e anualmente, durante um período de cinco anos, para se saber como a disciplina influenciou a sua orientação profissional. O que irá ser medido é a intenção do ex-aluno em relação à criação do seu próprio negócio e a energia que está disposto a colocar nesse sentido. Através deste mecanismo será possível, ao longo do tempo, ter-se uma avaliação dos resultados deste trabalho e criar-se formas de retro-alimentação com vistas a aprimoramentos e correções. Neste caso, é fundamental que a instituição de ensino acompanhe os passos do aluno em direção à sua profissionalização. A sistemática de acompanhamento de ex-alunos é extremamente simples, com atualizações anuais, podendo ser realizada pelo corpo administrativo do departamento de ensino, por centros acadêmicos, empresas júniores, centros de estudo. A seguir são apresentados alguns indicadores para a avaliação e a temporalidade de sua aplicação.
- Levantamento de expectativas, através de modelo sugerido no programa da disciplina. É feito em sala de aula, ao início da disciplina, registrando as aspirações dos alunos quanto ao seu encaminhamento profissional e quanto à disciplina.
- A utilidade da disciplina, o processo didático, a motivação dos alunos durante o curso, o grau de dedicação e participação. Feito em sala de aula, através da observação do instrutor. Permite alterar os rumos do curso, introduzir novas ferramentas didáticas.
- O grau de aprendizagem através de modelo sugerido neste manual. Feito em sala de aula. Comportamento. Os comportamentos mudaram após o curso? Pode ser feito através de questionários/entrevistas, perguntando-se o que pretende fazer, quais são os planos para o futuro. Pode ser feito 4 semanas após o curso e renovado anualmente.
- Novas empresas.
- O estágio em que a sua empresa está.
Feito meses após o curso.
Mecanismo: clube de empreendedores.
Atualização semestral.
- Impactos globais: faturamento, sobrevivência, lucros.
Feito 3 anos depois.
Mecanismo: clube de empreendedores.
Atualização semestral.
Note-se que a avaliação é progressivamente difícil. Nas instituições onde forem implantados GENES (Projeto Gênesis do SoftEx 2000) este processo será facilitado.
VII - O teste da disciplina - Resultados da experiência da UFMG
A partir de sua implementação na UFMG no segundo semestre de 1993, a disciplina, por ser anual, foi oferecida três vezes até 1995. Nesse período, 131 alunos cursaram a disciplina, tendo sido abertas 17 empresas (ver Anexo), que entraram em operação normal de produção e vendas. Deste total, 12 empresas participaram da FENASOFT, com estande completo, através de prêmios oferecidos pelo SEBRAE, como decorrência da sua participação no Júri. Mais de 50 ex-alunos da disciplina estão diretamente envolvidos no processo de empreendedorismo.
A avaliação da disciplina pelos alunos
As avaliações da disciplina, feita pelos alunos através de questionários, confirmam a necessidade de implantação da disciplina e a adequação da metodologia adotada. Abaixo são apresentados alguns resultados.
Quanto à necessidade de implantação da disciplina:
- Qual a importância na formação dos alunos, independentemente da carreira escolhida?
Útil somente para aqueles que querem ser empresários. 24%
Útil para todos os alunos 76%
- O que os alunos sabiam sobre criação de empresas antes da disciplina ?
Pouco ou quase nada 86%
Alguma coisa 14%
- A disciplina foi um motivador para o empreendedorismo ?
Motivador 95%
Não motivador 5%
- A disciplina deve ser incluída definitivamente no currículo do curso de graduação?
A disciplina deve ser oferecida em caráter permanente 100%
Quanto à metodologia
- Qual o grau de conhecimento adquirido na área de empreendedorismo ?
Muito alto 73%
Sistematizou conhecimentos anteriores 27%
- Qual a importância e validade dos depoimentos dos empreendedores em sala de aula?
Muito alta 100%
- Qual a validade do processo de modelagem para a análise e assimilação dos depoimentos dos empresários ?
Processo efetivo 90%
Processo pouco efetivo 10%
- Qual é o período ideal de oferecimento da disciplina ? (curso de 8 períodos)
Sétimo e oitavo períodos 85%
Sexto 10%
Quinto 5%
- Quais as características mais positivas do curso?
Metodologia e clima do curso 40%
Depoimentos de empresários 38%
Auto-aprendizado 13%
Plano de negócios 9%
- Problemas da disciplina
Pouco tempo. O ideal seriam dois semestres 58%
Exercícios em excesso 22%
O aluno que não tinha desenvolvido uma idéia de empresa
antes do início do curso teve dificuldades 20%
VIII - O programa nacional de implementação da disciplina - O Projeto SoftStart
Após os períodos de teste da disciplina, percebeu-se a necessidade de adoção de uma política efetiva de sensibilização e estimulo à sua implementação em cursos de graduação de informática, em termos nacionais. Com este objetivo, entre outros, foi criado o Projeto SoftStart no início de 1996. O contexto indicava que a disciplina criada em 1993, apesar de ter sido relativamente divulgada no âmbito do SoftEx, ainda não havia sido adotada pela maioria das universidades. Duas necessidades básicas foram percebidas e se constituíram no pressuposto estratégico de ação do SoftStart:
- A sensibilização das universidades para a necessidade da disciplina, considerando as novas manifestações do perfil econômico mundial, principalmente no que se refere à mudança nas relações de trabalho
- A criação de condições para o oferecimento da disciplina pelas instituições que o desejassem, principalmente no referente à metodologia e formação de professores.
Em ação conjunta com o Projeto Gênesis, que estimula a criação de pré-incubadoras no âmbito dos cursos de graduação e mestrado, o SoftStart lançou edital convocando as instituições de ensino universitário e técnico de informática a adotarem a disciplina em caráter definitivo oferecendo os seguintes incentivos:
- Material didático, composto de manual do professor, manual do aluno e manual de exercícios e textos suplementares;
- Verba de R$ 900,00 para pagamento de professores convidados especialistas (principalmente nas áreas de marketing, finanças, direito empresarial)
- Passagens e diárias para 3 palestrantes de outros estados,
- Monitor, através de bolsa ITI-A
- Prêmio para a empresa melhor classificada no Júri, representado por passagem e diárias para a participação de um representante da empresa na FENASOFT
- Verba de R$ 2.000,00, para serviços e material de consumo
- Participação no workshop "Training the trainers", para apresentação do conteúdo e da metodologia da disciplina
Foi feita também uma chamada específica para o Workshop "Training the trainers", visando as instituições que não participaram do edital anterior. As condições para participação no workshop incluem o compromisso formal de implementação da disciplina na instituição.
Resultados do Projeto SoftStart até Julho de 1996
a) Edital para estímulo à implementação da disciplina lançado em maio de 1996
- Chamada para participação no Workshop "Training the Trainers" em junho de 1996
- Instituições que implementaram (rão) a disciplina .
Unidade de Ensino Descentralizada de Instituição
Workshop
Implan-
tação
1
CEFET - PR - Centro Fed. de Educação Tecnológica - Paraná - Pato Branco
Out/96
Mar/97
2
CEFET - RJ - Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro-RJ
Jul/96
Ago/96
3
Centro Educacional EIT de Taguatinga - DF
Jul/96
Ago/96
4
COTUCA- Campinas - UNICAMP - SP
Jul/96
Ago/96
5
FABRAI / FAFI - Faculdade Brasileira de Informática - Belo Horizonte -MG
Out/96
Mar/97
6
Faculdade de Ciências Gerenciais da UNA - Belo Horizonte-MG
Out/96
Mar/97
7
Faculdades Integradas Moacyr Sreder Bastos- Rio de Janeiro - RJ
Out/96
Mar/97
8
Faculdades Integradas Newton Paiva - Belo Horizonte-MG
Out/96
Mar/97
9
Fundação Estadual Norte Fluminense-RJ
Jul/96
Mar/97
10
PUC - Campinas - Pontifícia Universidade Católica de Campinas-SP
Jul/96
Mar/97
11
PUC - Minas - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais-MG
Jul/96
Ago/96
12
PUC - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul-RS
Out/96
Mar/97
13
PUC - Rio - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro-RJ
Jul/96
Mar/97
14
SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial São Paulo - SP
Out/96
Mar/97
15
UFAL - Universidade Federal de Alagoas - AL
Out/96
Mar/97
16
UFC - Universidade Federal do Ceará- CE
Out/96
Mar/97
17
UFES - Universidade Federal do Espírito Santo - ES
Jul/96
Ago/96
18
UFF - Universidade Federal Fluminense- RJ
Out/96
Mar/97
19
UFGO - Universidade Federal de Goiás -GO
Jul/96
Ago/96
20
UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora - MG
Jul/96
Ago/96
21
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais - MG
Out/96
Ago/93
22
UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - MS
Out/96
Mar/97
23
UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto - MG
Out/96
Mar/97
24
UFPA - Universidade Federal do Pará - PA
Out/96
Mar/97
25
UFPB - Universidade Federal da Paraíba - PB
Jul/96
Ago/96
26
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco - PE
Jul/96
Ago/96
27
UFPR - Universidade Federal do Paraná - PR
Out/96
Mar/97
28
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro RJ
Jul/96
Ago/96
29
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - RN
Jul/96
Mar/97
30
UFRS - Universidade Federal do rio Grande do Sul - RS
Jul/96
Ago/96
31
UFS - Universidade Federal de Sergipe - SE
Out/96
Ago/96
32
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina - SC
Out/96
Mar/97
33
UFSM - Universidade Federal de Santa Maria - RS
Out/96
Mar/97
34
UFU - Universidade Federal de Uberlândia - MG
Out/96
Mar/97
35
UFV - Universidade Federal de Viçosa - MG
Out/96
Mar/97
36
UnB - Universidade Nacional de Brasília - DF
Jul/96
Ago/96
37
UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo RS
Out/96
Mar/97
38
UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí - São José - SC
Out/96
Ago/98
39
Universidade Católica de Pelotas - RS
Jul/96
Ago/96
40
Universidade Estácio de Sá - RJ
Out/96
Mar/97
41
Universidade Estadual de Londrina - PR
Jul/96
Ago/96
42
Universidade Estadual de Maringá - PR
Jul/96
Ago/96
43
Universidade Regional de Blumenau - SC
Jul/96
Ago/96
44
URCAMP- Universidade da Região da Campanha - Bagé, RS
Out/96
Mar/97
45
USP - São Carlos - Universidade de São Paulo em São Carlos - SP
Jul/96
Mar/97
46
USP - Universidade de São Paulo - Escola Politécnica da USP - SP
Out/96
Mar/98
- Instituições que receberam o incentivo da disciplina
Fonte do incentivo
Instituição
Gene
SoftStart
1
Centro Educacional EIT de Taguatinga
X
2
Fundação Estadual Norte Fluminense
X
3
PUC - Minas
X
4
PUC - Rio
X
5
UFES
X
6
UFGO
X
7
UFJF
X
8
UFPB
X
9
UFPE
X
10
UFRS
X
11
UnB
X
12
Universidade Católica de Pelotas
X
13
Universidade Estadual de Londrina
X
14
Universidade Estadual de Maringá
X
15
Universidade Regional de Blumenau
X
IX - Outras atividades do Projeto SoftStart
O clube de empreendedores
Uma das questões fundamentais na área de empreendedorismo é o suporte à empresa emergente. Não basta despertar a motivação para a criação do próprio negócio. No ambiente hostil do mundo empresarial, principalmente o brasileiro, onde a taxa de mortalidade infantil de empresas nascentes é elevadíssima, o suporte aos novos empreendimentos nos seus primeiros anos de existência é essencial. A maior carência das empresas emergentes na área de software é o que aqui se chama de empresariamento, termo que engloba todos os conhecimentos classificados como "não técnicos" que envolvem um empreendimento. Sabe-se que, em termos de sucesso empresarial de um produto, a fração puramente tecnológica (no caso, domínio das ferramentas de desenvolvimento de software), apesar de essencial, representa não mais do que 15% da solução global. Em outras palavras, o domínio de conhecimentos fora da área tecnológica representa a parte principal do desafio de um empreendedor. A este conjunto de conhecimentos chamamos de empresariamento, que abrange a expertise nas áreas de planejamento, finanças, pessoal, marketing, propaganda, embalagem. Portanto, o principal suporte a ser oferecido ao empreendimento emergente é nessa área. Por sua natureza, qualquer consultoria é uma atividade de alto custo. Para agravar o problema, empresas recém-criadas, justamente por sua alta fragilidade, necessitam de consultoria do mais alto gabarito, portanto, mais dispendiosas.
O "Clube" oferecerá suporte de empresariamento a empresários em qualquer estágio, mas principalmente ao empreendedor emergente na área de software, como aqueles surgidos em decorrência dos estímulos do SoftEx 2000, como a disciplina "Empreendimentos na Informática" e o Gênesis. O Clube irá acompanhar sistematicamente a evolução dessas empresas, criando mecanismos de retenção e acumulação de know how na área. Clubes de empreendedores têm demonstrado ser forte instrumento de apoio ao crescimento e desenvolvimento de empresas. A troca horizontal de informações, de forma estruturada tem, muitas vezes, o efeito de uma consultoria de alto nível. Os núcleos do programa SoftEx 2000 constituem excelente base de criação e sustentação de atividade desta natureza. O fator primordial no sucesso do "Clube" será a capacidade do núcleo de atrair empresários (de informática ou outras áreas) já estabelecidos, para dele participarem e contribuírem como conselheiros e consultores. Experiências internacionais demonstram que os empresários experientes tendem a ser altamente colaboradores em programas deste tipo. Muitos deles entendem que isto faz parte de sua contribuição para o meio em que vivem. Consultores de reputação e professores universitários, convocados por personagens influentes a participarem do "Clube", têm também uma motivação para darem ajuda através de palestras e estudos de caso, sem interesse financeiro imediato. Além de se sentirem contribuindo para um "sistema" que envolve forças importantes da comunidade (governos das três esferas, dirigentes empresariais, universidades, etc.), enxergam nos empresários iniciantes futuros clientes.
Um dos pontos fortes do programa SoftEx 2000 é ter-se estruturado sobre pilares que representam os principais sistemas de suporte econômico-culturais: os poderes executivos, nos três níveis, o meio empresarial e a universidade. O estímulo à criação de empresas não é atribuição isolada de um setor da sociedade, mas de todas as suas forças. O "Clube de empreendedores" é uma tarefa para a qual os núcleos estão geneticamente vocacionados. Ela será resultado de uma das maiores forças desenvolvidas pelo meio empresarial: a sua alta capacidade de engendrar uma rede de relações que se constitui em um de seus patrimônios essenciais. Esta é uma atividade de baixo custo, uma vez que o recurso primordial é representado pelos esforços do núcleo em criar a cultura de apoio ao empreendedorismo em sua área de influência e atuação. O "Clube de Empreendedores" é a associação de empresários na área de software, com o objetivo de troca de informações, aquisição de conhecimentos e sinergia na obtenção de prestação de serviços comuns.
A Revista de Negócios em Software
Como suporte às atividades do Programa SoftEx 2000, principalmente na área de criação de empresas, será criada uma revista mensal na Internet, ainda em 1996. A linha editorial contemplará principalmente a área de negócios em software, em termos mundiais, e dará informações e subsídios relativos às políticas de estímulo e suporte à criação de empresas, tais como o ensino universitário na área, o projeto Gênesis, o clube de empreendedores, etc.
X - Bibliografia
Filion, L.J., Visão e relações: elementos para um metamodelo da atividade empreendedora - International Small Business Journal, 1991- Tradução de Costa, S.R.
Filion, L.J., O planejamento do seu sistema de aprendizagem empresarial: Identifique uma visão e avalie o seu sistema de relações - Revista de Administração de Empresas, FGV, São Paulo, jul/set.1991, pag.31(3): 63-71.
Filion, L.J., Vision et relations: Clefs du succès de l'entrepreneur - Les Éditions de l'Entrepreneur, Montreal, Canada, 1991.
Timmons, J.A., New venture creation, Homewood IL:IRWIN, 1990
Oech, R., Um "toc" na cuca, Livraria Cultura Editora, Rio de Janeiro, 1988
Gibb,A.A., Enterprise culture-its meaning and implications for education in training, Journal of European na Industrial Training, Monograph, Vol. 11, N º 2, 1991
Garcia, Fernando Coutinho. Neoliberalismo, Controle de Qualidade Total e Reengenharia: Instrumentos para o Desemprego e a Miséria Social. In: Encontro Nacional dos Programas de Pós Graduação em Administração, 1995, João Pessoa. Revista Brasileira de Administração Contemporânea. Rio de Janeiro: ANPAD,1995.p.29-48.
Fortune, 12 de junho de 1993, 46-47 p.
Varela, R., Lozano, M., "Espiritu empresarial en la educacion primaria; la experiencia del C.D.E.E.", V congresso Latinoamericano sobre espiritu empresarial, Santiago do Chile, 1991
P.A. Schumann, Jr., Austin Creativity: "Key to the future", Technical Symposium , 1982
Anexo I
Nome
Criação
Sócios
Produto(s) / Serviço(s)
Área de Atuação
1
I2 Software
dez/93
2
Produtos: Termilite, Central de Suporte, Synchro
Serviço: provedor de acesso
Comunicação de dados
Internet
2
Easy Systems
mar/94
6
Produto: Easy Tour. Serviços: treinamento multi-mídia, desenvolv. SW p/Windows
Software para turismo
Software educativo - vestibular
Treinamento
3
Textual Informática
abr/94
2
Produto: Correto
Software par correção de textos
4
Fábrica de Software
mai/94
2
Produto: Bio-controle
Serviços: instalação e planej. lógico de redes de computador
Desenvolvimento de software
Consultoria em redes
5
Sirius Informática
abr/94
4
Produto: Doctor Vision
Software para a área médica
6
WEB Consult. e Sist.
mar/95
5
Produto: The Internet Disk
Internet
7
Futura Software
jun/94
2
Produto/serviço: Ponte Certa - programa para comunicação entre agências de veículo
Comunicação entre agências de veículo
8
Multimedia House
fev/95
4
Produto: Alfabeto Animado
SW educativo
9
EveryWare Multimedia
jun/95
4
Produto: Futemática
Serviço: multimídia empresarial
Multimídia empresarial
10
Sinapse
fev/95
3
Produto/serviço: SPPA - sistema de programação da produção de acabamento
Otimização através de métodos heuristicos moderno
11
BMN Informática
nov/94
3
Serviço: desenvolvimento de software por encomenda
Prestador de serviços por encomenda
12
Hard Point
out/95
3
Produto: revenda equip. IBM
Serviço: consultoria em redes
Venda de soluções (através de equipamento e consultoria)
13
QuickSoft Informática
nov/95
2
Serviço: desenvolvimento de sistemas por encomenda
Sistemas administrativos
14
Kinesis - Sol. em Infor.
jan/96
4
Produto: Body Manager
Software educação física
15
Quadra Informática
jun/96
4
Produto: Class Organizer
Software de auxílio ao controle de horários escolares
16
Doctor Sys
mar/96
2
Produto: Doctor Case
Ferramentas e produtos para desenvolvedores de Software
17
Expert Solutions
arb/96
3
Produto: Expert Home Page
Internet (ainda um pouco indefinido)