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Se existisse uma fórmula mágica que apontasse os caminhos da exportação de software, sem nenhuma margem de erro, certamente muita gente estaria comprando. Enquanto isso não acontece, o negócio é sair em busca dos parceiros, clientes, empréstimos e até fazer previsões para a virada do milênio. O Chefe da Divisão de Programas Sociais do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Claudio de Moura Castro acredita que, no ano 2000, países que combinam mão de obra barata com tradição de matemática forte (Í ndia, China, Rússia, Bulgária, Hungria e Sri Lanka) têm grandes vantagens em conquistar o mercado internacional de software. Nessa corrida contra o tempo, o que os brasileiros devem fazer? a globalização é a saída? qual o papel dos centros de pesquisas na formação de novas empresas deste setor? É sobre estas e outras questões que o Chefe da Divisão de Programas Sociais do BID, Claudio de Moura Castro, conversa com a equipe do Enterprise News.
Enterprise News - Qual o impacto que tem o processo de geração de novas empresas, na área de informática, na educação e economia brasileira?
Claudio de Moura Castro - Em um país com muitos poucos dispondo de excelente educação, a empresa grande, verticalizada, era um solução inteligente. O conhecimento de poucos afetava profundamente e orientava o funcionamento de muitos. Esta s olução continuaria a ser boa se o mundo não houvesse mudado, o mesmo se dando com a tecnologia e as formas de produção. Neste novo mundo, a empresona, o grande engenho de cana, já não tem o mesmo espaço. E a pequena, com sua flexibilidade, velocidade, i maginação e criatividade que passa a ter um espaço privilegiado. Mas para que isso possa realmente acontecer, temos que aprender muito. Estamos longe da pequena empresa americana.
E.N - Quais as possibilidades que têm as empresas brasileiras produtoras de software em fazer parte da economia global do setor?
C.M.C - As empresas da área de informática não têm os mesmos problemas que as outras pequenas, dado o altíssimo nível de educação de quase todo mundo. Neste sentido, tem uma enorme vantagem. Se não fosse isso, nem pensar em exportar. Soft ware tem o seu custo determinado pelo custo/hora de programadores de primeira linha. E claramente, os nossos são mais baratos. Por isso, as possibilidades são boas.
E.N - E a geração de empresas partindo dos centros universitários? como o sr. avalia a relação empresa X universidade?
C.M.C - Nas áreas de alta densidade tecnológica, a transição de grupos universitários para a pesquisa aplicada nas empresas é natural e mais do que comum. Virtualmente todos os centros de pesquisa, começando com o Sillicon Valley, foram ger ados por universidades de primeira linha. Nada de novo. O Sillicon Valley foi que deu início, juntamente com a Route 128 perto de Harvard e MIT. O mais importante seguidor desta linha foi o Technology Quadrangle em North Carolina. Mas há muitos outros.
E.N - Como os países desenvolvidos encaram projetos como o GENESIS - Geração de Novos Empreendimentos em Software, Informação e Serviços, que é um programa do Governo Federal e que objetiva incentivar alunos e recém-formados ao desenv olvimento de software que possa competir com o mercado internacional?
C.M.C - Nas áreas consolidadas de produção de tecnologia, a coisa anda sozinha. É nos bares e restaurantes de San Jose e Cupertino que se resolve tudo. Mas as regiões que querem começar precisam de mais apoio, sistematização e estrutura. A p olítica de C&T que estou ajudando a preparar no BID vê com grande simpatia a participação de pequenas e médias empresas neste esforço de geração de tecnologia. Não obstante, o apoio que o BID gostaria de dar a tais programas tem que ser por via de emprést imos maiores para agências de governo do tipo FINEP.
E.N - O que o Banco Interamericano de Desenvolvimento faz para apoiar os empreendedores na produção de software? quais os tipos de financiamentos?
C.M.C - Retomando a resposta acima, o BID responderia de forma positiva a pedidos de governos que queiram criar condições financeiras e de apoio técnico a geração de tecnologia. No entanto, o BID é um banco cujos donos são governos. Portant o, a maioria de seus empréstimos são dados a governos. Estes, por sua vez, operam carteiras para apoio de pequenas empresas de tecnologia.
E.N - O que falta então para que o Brasil assuma a "linha de frente" na produção de software?
C.M.C - Só falta ir em frente. É questão de pique. Não precisa construir barragens ou ferrovias. Se houver iniciativa, energia e persistência, as experiências prévias nesta área sugerem que pode dar certo. Não adianta ficar esperando o gover no vir de babá. Ou vocês fazem o serviço ou nada vai acontecer. Só sei que competir com a Microsoft não parece uma boa idéia. É preciso encontrar pequenos nichos, começar pequeno, algumas vezes apenas sucontratando programação com outras empresas. Com ex periência, vai calibrando o tiro e falando mais grosso.
E.N - O investimento, neste setor, é baixo no Brasil? como acontece nos Estados Unidos?
C.M.C - É baixo, como é baixo o investimento de C&T em geral. Está crescendo. Mas o que precisa crescer mais é o investimento privado. O público já é relativamente alto.
O importante é realísticamente perguntar o que quer o cliente
e deixar de nacionalismos bobos.E.N - Para encarar o mundo globalizado não é necessário que as empresas de cada país saibam valorizar as culturas locais ou isso já está ultrapassado e o que vale é buscar o que interessa à "globalização"? C.M.C - Depende. Os russos programam mais elegante do que os americanos, por conta de sua superioridade matemática (dito pelo chefe do departamento de Computer Science da Universidade de Illinois). Esta é a cultura local russa. Até aí vamos. Posso imaginar programar ouvindo batucada, mas não imagino que o ritmo do samba possa migrar para as linhas de programação.
E.N - Até que ponto a globalização pode ou não afetar no desenvolvimento das empresas brasileiras produtoras de software? C.M.C - Pode matar a programação tupiniquim ou pode abrir uma porta. Depende da nossa agressividade e realismo. Já não é mais hora de tentar fazer outro UNIX ou OS para PCs. Não adianta pedir outra reserva que não virá. Salve-se quem puder, é a lei do mais forte.
E.N - Então onde estamos errando e quando acertamos?
C.M.C - Acertamos quando procuramos os nichos de mercado e vamos em frente modestamente. Erramos ao pensar nas soluções grandiosas ou lamuriarmos pelas oportunidades perdidas.
E.N - O que fazer quando uma empresa de grande porte, já consolidada no mercado, quer absorver a idéia de alguém que está começando agora, tornando-o seu parceiro e/ou injetando dinheiro (sócio-capitalista) ou querendo comprar a empresa? É hora de desistir e reconhecer que sozinho não vai conseguir ou a humildade tem que bater à porta e encarar o desafio?
C.M.C - Bill Gates enfrentou a IBM bem no comecinho. Muitos não conseguiram enfrentar a Microsoft. Fecharam ou foram comprados. A história é antiga. Não há fórmulas. É uma aposta.
E.N - Na virada do milênio quem vai estar à frente na linha de produção de software? quais os países que o sr. vê como potenciais competidores?
C.M.C - Difícil dizer. Os países que combinam mão-de-obra barata com tradição de uma matemática forte têm grandes vantagens (China, Índia, Rússia, Bulgária, Hungria, Sri Lanka). Mas este não é o único fator pois os EEUU não tem nem um nem ou tro. A área de hardware depende de investimentos muito grandes e de uma maturidade do tecido industrial considerável. Quem vai conseguir fazer alguma coisa em um futuro próximo já está investindo há muito tempo e não será surpresa o que possa acontecer. Mas soft só exige cabeça afiada e um bom conhecimento do mercado. É de quem pegar.