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MUNDI (86KB) Por que Baile Perfumado, qual a função dos bailes perfumados na trama?
Paulo Caldas |
MUNDI
Por que filmar a história de Benjamin Abrahão?
Lírio Ferreira
Primeiro porque a história dele é altamente cinematográfica. Uma pessoa
que conviveu com os dois maiores mitos deste século para os Nordestinos:
Padre Cícero e Lampião... E não só por isso, mas pela maneira de como ele
chegou a estas pessoas, é uma história muito interessante. E tem aspectos
que conta principalmente a chegada da modernidade no Sertão - que é um
tema que a gente aborda muito no filme, e por conta de ser cinema que
fala de cinema e que envolve pessoas e mitos dessa época. Eu acho que
este argumento todo, sintetizando a vida de Benjamin Abrahão, é um
história altamente cinematográfica.
MUNDI
O que Benjamin Abrahão simbolizou para o cinema e, no contraponto, o que
vocês estão simbolizando agora para o cinema nacional?
Lírio Ferreira
O que ele simbolizou é que, além de ser uma pessoa pioneira, de ter
filmado a única verdade que existe sobre Lampião, é também uma odisséia
estar se filmando no Brasil hoje, apesar de ter se melhorado muito de um
ano para cá, como deve ter sido a odisséia de Benjamin Abrahão passar
dois anos correndo atrás de Lampião até concretizar as filmagens. Mas eu
acho que é isso, o sonho que ele tinha naquela época é o mesmo sonho que
a gente tem hoje de fazer o filme. Espero que a gente tenha um pouquinho
mais de sorte.
MUNDI
Como foi produzir o Baile Perfumado do ponto de vista financeiro, como
foi e como está sendo vender o filme?
Germano Filho
Ainda está sendo. Ainda é necessário levantar uma soma de recursos para
finalizar o filme. A dificuldade na fase inicial para levantar recursos
foi grande, porque é um projeto grande. Os empresários da região não têm
esta tradição de investir no marketing cultural, investir no cinema, até
porque há 18 anos que não se fazia um filme em Pernambuco. E a nível
nacional o cinema também estava praticamente parado, depois da era
Collor, que fechou os mecanismos de produção. Então o cinema estava
realmente desacreditado. Hoje, a gente vive um momento de retomada do
Cinema. São 40 produções a nível nacional. Então existe um clima
crescente que favorece novas produções e favorece inclusive a finalização
do Baile Perfumado. Agora, o contexto econômico-financeiro do país, que é
extremamente instável. Por mais que a gente esteja hoje com uma moeda
estável, mas a economia não está estável. Então a gente teve nesse
segundo semestre uma dificuldade de captação de recursos muitíssimo maior
do que no primeiro semestre. A gente estava até avaliando, talvez a gente
não conseguiu levantar 10% do que conseguimos em um semestre. Então esse
contexto político-econômico, das políticas culturais, também dificulta
muito levantar recursos para cinema e outras produções culturais a nível
nacional.
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MUNDI Como o empresariado em geral vê o investimento “cinema?
Germano Filho |
MUNDI
Como é filmar a história de um mito tão amado e odiado?
Paulo Caldas
De uma certa forma, para os nordestinos, para os brasileiros, cada um tem
um lampião dentro da cabeça, uma imagem de como é o seu lampião. O que eu
acho que o filme recupera são aquelas imagens reais e únicas de Lampião
mesmo. Então eu acho que isso é importante, que é colocado no filme dessa
forma. Agora é impossível fazer infinitos filmes para atender a todos os
espectadores que tem idéias e viagens de como é o seu Lampião. O Lampião
da gente eu acho que é assim um Lampião bandido como profissional. É um
Lampião feito de gente, de carne, cabeça, inteligência. O que a gente quer
com esta história de Lampião é desmistificar um pouco. Porque a promoção
dos mitos de uma forma gratuita e sem uma interpretação de porque eles
estão ali é ruim até para a formação cultural. É também mais uma maneira
de se discutir a formação cultural da gente, a história da cultura da
gente, que é ou que eu acho que os brasileiros estão atrás nesse momento.
O que o público está atrás é de se ver na tela. Acho que todo nordestino
tem um pouco de Lampião, e todo brasileiro também, então é bom ver na
tela um Lampião. Uma coisa legal desse Lampião que eu queria chamar à
atenção é a interpretação do Luís Carlos Vasconcelos, que é um ator
paraibano e que fez um trabalho brilhante em cima de Lampião e eu acho
que vai impressionar muito.
MUNDI
Benjamin Abrahão teve uma série de dificuldades para filmar a história de
Lampião. Por sua vez vocês também enfretaram várias dificuldades para
filmar sua história. É possível traçar um paralelo?
Paulo Caldas
Veja bem, o Benjamin Abrahão gostava muito de dinheiro. O fato dele ter
feito estas imagens, o fato de existir estas imagens se deve a ele. Isso
é de total importância para a cultura brasileira, para a história do
país, para o povo, para todos nós, a existência dessas imagens que ele
fez. Agora quando ele tava fazendo estas imagens, o intuito principal
dele era ganhar dinheiro. Ele era um comerciante, tinha uma formação de
mascate, uma formação árabe, ele era libanês, então o que tem muito forte
nele é esse sentido mercantilista mesmo. Não como um cineasta pioneiro.
Ele não era um teórico, um pesquisador da linguagem cinematográfica.
Apesar de no filme ter feito coisas muito interessantes. Ter apresentado
soluções como a câmera na mão - que era uma solução pouquíssimo usual na
época e que, pela própria mobilidade dos cangaceiros na caatinga, ele viu
que não dava pra filmar com tripé, parado como filmava nas cidades e
botou a câmera na mão.Tem coisas intuitivas nele, mas isso não pode ser
levado como o talento dele como cineasta ou como fotógrafo. A gente pode
assegurar a importância dele ter registrado esse material. Agora, a gente
não tem o mesmo sentido que ele. A gente espera conseguir o que ele não
conseguiu, que é terminar o filme e consiga o que ele também não
conseguiu - que é ganhar algum dinheiro. Não é exatamente como Benjamin
Abrahão pensava, mas é um filme comercial, que narra a aventura dele.
MUNDI
Obrigado.