Januário era o nome do pai de Luiz Gonzaga, como este nos contou na famosa canção Respeita Januário. Ao contrário do filho famoso, ele nunca se profissionalizou, não foi morar na cidade grande, nem trocou sua sanfona de oito baixos pelos mais modernos acordeões com teclado de piano. No entanto, ele foi o mestre e a fonte de muitos dos sucessos do filho, que sempre reconheceu a dívida. Os cantos e músicas tradicionais do Nordeste foram louvados por muita gente importante como uma das mais altas expressões culturais do povo brasileiro Isso é o que dizem escritores como Mário de Andrade e Ariano Suassuna; compositores como Heitor Villa-Lobos e César Guerra-Peixe; formuladores de nossas políticas culturais, como Aloísio Magalhães... Esta música tão rica também é exaltada em muitas peças publicitárias, governamentais ou empresariais, como sendo um dos componentes mais importantes da chamada "nordestinidade". Mais importante do que isso, é o fato de que estes cantos e músicas tradicionais continuam sendo amados por grandes parcelas do povo nordestino, que usa e abusa deles para se divertir, para louvar a Deus, aos santos ou aos orixás, para amainar a dureza do trabalho e para ninar os filhos. Mas instituições culturais brasileiras ainda não deram toda a atenção devida a este extraordinário "patrimônio imaterial". No que se refere à pesquisa, a desproporção é alarmante entre o pouco que se fez e o muito que há para se fazer na área. E para nós, aqui a pesquisa cultural é indissociável da valorização dos agentes da cultura. Não se pode pensar na música do Nordeste separada das mulheres e homens que a produzem. (Tal separação nos levaria a encarar a música tradicional como uma espécie de objeto: ou fóssil a ser preservado, ou exotismo a ser explorado comercialmente...) Para a Associação Respeita Januário, a música tradicional do Nordeste é antes de tudo uma realidade humana, viva; com os músicos tradicionais, estes Januários de hoje, queremos ajudar a conhecê-la e a valorizá-la como merece. |