Como os projetos possuem um caráter único, a eles está associado um certo grau de
incerteza. As organizações que desenvolvem projetos usualmente dividem-nos em
várias fases visando um melhor controle gerencial e uma ligação mais adequada de
cada projeto aos seus processos operacionais contínuos.
O conjunto das fases de um projeto é conhecido como ciclo de vida do projeto.
2.1.1 Características das Fases do Projeto do Projeto
Cada fase do projeto é marcada pela conclusão de um ou mais produtos da fase
(deliverables). Um subproduto é um resultado do trabalho (work product), tangível e
verificável, tal como um estudo de viabilidade, um design detalhado ou um protótipo.
Os subprodutos do projeto e também as fases, compõem uma seqüência lógica, criada
para assegurar uma adequada definição do produto do projeto.
A conclusão de uma fase é geralmente marcada pela revisão dos principais
subprodutos e pela avaliação do desempenho do projeto tendo em vista (a) determinar
se o projeto deve continuar na sua próxima fase e (b) detectar e corrigir erros a um custo
aceitável. Estas revisões de fim de fase são comumente denominadas saídas de fase
(phase exits), passagens de estágio (stage gates)
ou pontos de término (kill points).
Cada fase normalmente inclui um conjunto de resultados de trabalho específicos,
projetados com o objetivo de estabelecer um controle gerencial desejado. A maioria
destes itens estão relacionados com o principal subproduto da fase. As fases,
tipicamente, adotam nomes provenientes destes itens: levantamento de necessidades,
desenho ou especificação (design), implementação ou construção, documentação (text),
implantação ou inauguração (start-up), manutenção (turnover), e outros. Alguns ciclos
de vida de projeto representativos são descritos na
Seção 2.1.3.
2.1.2 Características do Ciclo de Vida do Projeto
O ciclo de vida do projeto serve para definir o início e o fim de um projeto. Por
exemplo, quando uma organização identifica uma oportunidade dentro de sua linha de
atuação, normalmente ela solicita uma avaliação das necessidades e/ou um estudo de viabilidade
para decidir se deve criar
um projeto. O ciclo de vida do projeto determina se há o estudo de viabilidade constituirá
a primeira fase do projeto ou se deve ser tratado como um projeto à parte.
A definição do ciclo de vida do projeto também determina os procedimentos de
transição para o ambiente de operação que serão incluídos no início e no final do projeto,
distinguindo-os dos que não serão. Desta forma, o ciclo de vida do projeto pode ser usado
para ligar o projeto aos processos operacionais contínuos da organização executora.
A seqüência de fases, definida pela maioria dos ciclos de vida de projeto, tais como
“solicitações” para “design”, “construção para operações” ou “especificação” para
“manufatura”, geralmente envolve alguma forma de transferência de tecnologia ou hand-off.
Os subprodutos oriundos de uma fase normalmente são aprovados antes do início da
próxima fase. Entretanto, quando os riscos são considerados aceitáveis, a fase
subsequente pode iniciar antes da aprovação dos subprodutos da fase precedente. Esta
prática de sobreposição de fases é usualmente chamada de
fast tracking .
Os ciclo de vida dos projetos geralmente definem:
Que trabalho técnico deve ser realizado em cada fase (por exemplo, quem é
necessário ser envolvido na fase de definição ou da fase de execução?).
Quem deve estar envolvido em cada fase (por exemplo, a
Engenharia Simultânea
exige que os implementadores sejam envolvidos nas fases de levantamento de
necessidades e especificação).
As descrições do ciclo de vida de projeto podem ser genéricas ou detalhadas.
Descrições muito detalhadas podem conter uma série de formulários, diagramas e
checklists para prover estrutura e consistência. Estas abordagens detalhadas são
freqüentemente chamadas de metodologias de gerência de projeto.
A maioria das descrições do ciclo de vida de projeto apresentam algumas
características em comum:
O custo e a quantidade de pessoas
integrantes da equipe são baixos no início do
projeto, sofre incrementos no decorrer do mesmo e se reduzem drasticamente
quando seu término é vislumbrado. Este modelo é ilustrado na
Figura 2-1.
No início do projeto, a probabilidade
de terminá-lo com sucesso é baixa e, portanto,
o risco e a incerteza são altos. Normalmente a probabilidade de sucesso vai
aumentando à medida que o projeto caminha em direção ao seu término.
A capacidade das partes envolvidas de influenciar as características finais do
produto do projeto e o seu custo final, é alta no início e vai se reduzindo com o
andamento do projeto. Isto acontece, principalmente, porque o custo de mudanças e
correção de erros geralmente aumenta à medida que o projeto se desenvolve.
Deve-se tomar cuidado para distinguir ciclo de vida de projeto de
ciclo de vida do produto. Por exemplo, um projeto para lançar no mercado
um novo computador de mesa é somente uma fase ou estágio do ciclo de vida deste produto.
Ainda que muitos ciclos de vida de projeto apresentem nomes de fases similares
com resultados de trabalho similares, poucos são idênticos. Embora a maioria tenha
quatro ou cinco fases, alguns chegam a ter nove ou mais. Mesmo numa mesma área de
aplicação, temos variações significativas – numa organização, o ciclo de vida para
desenvolvimento de software pode ter uma única fase de design, enquanto em outra,
pode apresentar duas fases, uma para especificação funcional e outra para design
detalhado.
Subprojetos, dentro dos projetos, podem ter ciclos de vida separados. Por exemplo,
uma empresa de arquitetura contratada para projetar um novo prédio de escritórios
estará inicialmente envolvida com a fase de definições do contratante, quando da
elaboração do projeto, e com a fase de implementação, quando fornecendo suporte à
construção. O projeto de desenho arquitetônico, no entanto, terá sua própria série de
fases desde a especificação conceitual, passando pela definição e implementação, até o
encerramento. O arquiteto pode, ainda, tratar o design do prédio e o suporte à
construção como projetos separados com suas próprias fases.
2.1.3 Ciclos de Vida Representativos do Projeto
Os seguintes ciclos de vida foram selecionados para ilustrar a diversidade de abordagens
em uso. Os exemplos apresentados são típicos; eles não são nem recomendados nem
preferidos. Em cada caso, o nome das fases e os principais subprodutos são aqueles
descritos pelo autor.
Aquisição pelo Sistema de Defesa. A diretriz 5000.2 do Departamento de Defesa
Americano, em sua revisão de Abril de 2000, descreve uma série de fases e marcos
para o processo de aquisição, como ilustrado na
Figura 2-2.
Conceituação do Projeto - estudo de conceitos alternativas para atender as
necessidades; desenvolvimento dos subsistemas/componentes e conceitos/tecnologia demonstração
do novo conceito do sistema. Termina com a seleção de uma arquitetura de sistema e de uma
tecnologia pronta para ser usada.
Sistema de Desenvolvimento e Demonstração - integração de sistema; redução de
risco; demonstração de modelos de engenharia de desenvolvimento; desenvolvimento e teste de
operação e avaliação. Termina com a demonstração de sistema em um ambiente operacional.
Produção e Desenvolvimento – baixa taxa de produção inicial (LRIP); completa
o desenvolvimento da capacidade de produção; sobrepõe os processos contínuos de Operação e
Suporte.
Suporte – esta fase é parte do ciclo de vida do produto, mas é realmente
um gerenciamento de processo contínuo. Vários projetos talvez conduzam durante esta
fase para melhora da capacidade, correção de defeitos, etc.
Construção Civil. Morris (1) descreve o ciclo de vida de construção como
ilustrado na
Figura 2-3:
Viabilidade - formulação do projeto, estudos de viabilidade e formulação e
aprovação da estratégia. Uma decisão de continuidade (go/no-go) do projeto faz
parte da finalização desta fase.
Planejamento e Projeto - projeto básico, custo e cronograma, termos e condições
contratuais, e planejamento detalhado. A maioria dos contratos são fechados ao final
desta fase.
Construção - fabricação, entrega, obras civis, instalação e teste. As instalações
estão substancialmente completas ao final desta fase.
Adaptação e Lançamento - teste final e manutenção. As instalações estão em plena
operação ao final desta fase.
Indústria Farmacêutica. Existe vários modelos de ciclo de vida de
desenvolvimento de um software, como o modelo cascata. Murphy (2) descreve o ciclo de vida do projeto para
desenvolvimento de um novo produto farmacêutico nos EUA, como ilustrado na
Figura 2-4:
Investigação e Seleção - inclui pesquisa básica e aplicada para identificação de
candidatos para testes pré-clínicos.
Desenvolvimento Pré-clínico - inclui testes de laboratório e animal para
determinar a eficácia e segurança da droga. Inclui também a preparação e o registro de
“Investigação de Nova Droga” (IND - Investigational New Drug).
Desenvolvimento do(s) Registro(s) - inclui os testes das Fases Clínicas I, II e
III, assim como a preparação e registro do “Pedido de Nova Droga” (NDA - New Drug
Application).
Atividade Pós-submissão - inclui o trabalho adicional necessário para suportar a
revisão do NDA pelo órgão responsável pelo controle de remédios nos Estados
Unidos - o FDA (Federal and Drug Administration)
Desenvolvimento de Software. Muench e outros [3] descreve um modelo espiral de
desenvolvimento de software com quatro ciclos e quatro quadrantes, como ilustrado na
Figura 2-5:
Ciclo de prova de conceito (proof-of-concept) - captura os requerimentos de
negócio, define objetivos para a prova de conceito, produz um desenho conceitual
do sistema, projeta e constrói a prova de conceito, produz planos de teste de
aceitação, conduz análises de risco e faz recomendações.
Primeiro ciclo de implementação - produz os requerimentos do sistema, define
objetivos para a primeira implementação, produz o desenho lógico do sistema,
projeta e constrói a primeira implementação, produz planos de teste do sistema,
avalia a primeira implementação e faz recomendações.
Segundo ciclo de implementação - produz os requerimentos dos subsistemas,
define objetivos para a segunda implementação, produz o desenho físico do
sistema, constrói a segunda implementação, produz planos de teste do sistema,
avalia a segunda implementação e faz recomendações.
Ciclo final - completa os requerimentos, produz o desenho final do sistema,
constrói a implementação final, conduz os testes de unidade, de subsistema, de
sistema e de aceitação.
Operacionais contínuos:
Tradução do termo inglês “ongoing operations” representando todas as atividades de caráter repetitivo e contínuo ou
seja, não caracterizadas como projeto.
Fast Tracking :
Compressão do cronograma do projeto pela superposição de atividades que normalmente estariam em sequência.
Engenharia Simultânea:
Tradução do inglês “Concurrent Engineering” onde se pressupõe que várias atividades possam ser desenvolvidas em
paralelo, em oposição ao sequenciamento de atividades.
modelo